“I only wanted something else to do but hang around.”
No subúrbio a temperatura é sempre uns graus mais fresca do que no centro da cidade. E quando neva, é mais provável que a neve acumule aqui.
No subúrbio um jardim de tamanho razoável com esquilos, ouriços, passarinhos e 3 quartos custa o mesmo que um conjugadinho mofado com vista pra rodoviária no centro. Você está mais longe e vai pagar mais pelo transporte, mas a diferença no aluguel ajuda a financiar muitas passagens do metrô. Infelizmente sair à noite para beber fica complicado se você morar fora do alcance dos night buses. Esqueça táxis, a menos que queira deixar um rim no porta malas. Mas o metrô noturno aos fins de semana já é realidade nas linhas principais. Urrú.
Os engarrafamentos são menos frequentes porque apenas as linhas locais de ônibus circulam pela área. Ônibus aqui são extremamente lentos e atravancam o trânsito nas zonas centrais; no subúrbio há menos veículos circulando de modo geral.
E por causa disso as chances de o horário do motorista encerrar antes de chegar ao ponto final (por conta do atraso na viagem) e ele te pôr pra fora no meio do caminho (sim, isso acontece por aqui) são muito menores. Bless.
Mais verde. Ruas arborizadas, jardins floridos e bem cuidados; os ingleses são os jardineiros talentosos e dedicados.
Menos barulho. Estou perto do centro do bairro e faço tudo a pé (banco, correio, supermercado, lojas, cafés), mas a vizinhança imediata é 100% residencial - ou seja, ausência de bêbados gritando na rua às três da manhã ou sirenes de polícia/ambulância embaixo da janela do quarto. A única coisa que ouço aqui às três da manhã: o ronco do respectivo e o carrinho elétrico que entrega o leite.
É menos violento. A realidade é essa, a gente poderia comprar mil brigas e se perder tentando explicar as razões, mas vamos ficar apenas com os fatos.
Não tem turistas. Visitem sim, sempre, os locais adoram turistas (os locais precisam vender sanduíche gourmet); mas o grupo de espanhóis berrando dentro do Burger King, as crianças francesas gritando para os patos em St. James’ Park e as cinco senhorinhas de Inverness de mãos dadas ocupando a calçada inteira e andando a cinco metros por hora não são sempre a melhor coisa do mundo. Especialmente quando você tem pressa, dor de cabeça ou gosta de patos.
É menos populoso. As calçadas em que você mal consegue andar, o restaurante que não aceita reservas e tem fila de 1h pra entrar, a loja onde você precisa empurrar a coleguinha pra conseguir chegar na arara de promoção, o evento onde você entra depois de ficar 1h na fila e lá dentro encontra doze mil “mini-filas” diferentes (pra comprar comida, pra ver um stand, pra ir ao banheiro, pra jogar o pratinho de papel da comida no lixo, etc)? Não tem. É menos besta. Cafés não servem “descafeinado/americano/flat white/macchiato/orgânico/fair trade”. Cafés servem “com ou sem leite”.
Ok, também não tem restaurante hype, treze eventos por semana e a H&M tem um estoque meia-bomba se comparado aos shoppings/Oxford Street. Mas aqui dá pra respirar. Dá pra sair de casa e caminhar por calçadas largas e vazias, comprar o seu lanchinho no Tesco Express, sentar no parque pra comer stalkeando o instagram ou caçando Pokemons, dar as sobras para os patinhos ou esquilos e ir até a Primark comprar calcinhas de 1.50 numa banca que não foi revirada por mãos de pelo menos três continentes.
O subúrbio é o lugar onde o britânico médio vem ter filhos, garagens e labradores, plantar cerejeiras, construir conservatórios, se tornar conservador e realizar o sonho da casa própria - ou pelo menos do conjugado que ele não precisa dividir com estranhos a fim de conseguir pagar o aluguel. Anos depois, vazio o ninho, o interior e as pequenas cidades litorâneas são os lugares onde ele vai sentar numa cadeira reclinável, deixar os mementos de uma vida inteira para trás em prateleiras de brechós e morrer.
It’s too soon to leave. Porque quando eu me canso da tranquilidade provinciana do subúrbio e preciso recarregar as baterias com a energia da metrópole, bem, ela está logo ali. Win-win. ♥
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