Sair do metrô antes das dez e encher os pulmões daquele cheiro que antecipa a chuva. Nuvens em diversos tons de cinza claro desfiando pedaços pelo céu azul. Café da manhã no Nero por causa do melhor mini panetone da cidade e o chocolate quente que eu nunca peço em outro lugar (coffee is my boyfriend) mas aqui sim, porque maravilhoso. De "sobremesa" dividir churros com G. (e roubar a metade do doce de leite do copinho dele) numa fast food mexicana e sair bem na hora em que finalmente começa a chover.
Curtir alguns segundos de chuva fina sentados no jardim da igreja até que os pingos começam a ficar cada vez grossos e importunos; buscar abrigo e ter a surpresa de encontrar um recital de piano em andamento. Curtir alguns minutos de música clássica examinando os detalhes do teto, do altar, o tamanho dos candelabros, a echarpe azul da pianista, as duas lindas moças japonesas que junto com G. e eu formavam a única platéia, a luz do céu que voltava a se abrir depois da chuva entrando pelos vitrais da janela e reconhecendo a beleza e o privilégio desse momento.
Saímos de novo para a rua, as calçadas aos poucos voltam a se encher. As poças de água no chão espelhando o sol, o cheiro nostálgico de terra molhada vindo dos jardins e a sensação de que a chuva cumpriu a missão do dia e hoje não volta mais. O céu se admira no reflexo das janelas das casinhas de fachada georgiana, emolduradas pelas folhas verdes das árvores que muito em breve mudarão de cor. Everything is so lovely I can barely stand it.
Em Covent Garden mais do mesmo: turistas e seus sorvetes, madames e suas sacolas de lojas de grife, malabaristas de rua, homens elegantes de calça vermelha, grupos barulhentos de adolescentes, o cara que pede dinheiro na rua se fingindo de estátua e que acabou de chegar e, enquanto arruma o ponto, se mexe normalmente, destruindo a ilusão das crianças. "Olha mãe, uma estátua se mexendo!" Nós rimos, eu declino do convite para almoçar do outro lado da cidade porque estou esperando F. Que chega atrasada e vamos comer almôndegas com arroz integral no Leon (tão saudáveis) e quando eu pergunto o que tem pra beber a vendedora me recita uma lista interminável de sucos verdes artesanais e águas de coco orgânicas e eu por fim interrompo "TEM COCA ZERO?" e ela diz que sim e dá uma risadinha na qual reconheço cumplicidade. Yup, she hates that healthy shit, too.
Passamos na padaria nórdica hipster que tem os maiores cinnamon rolls da história da humanidade e onde eu não compro nada; acabo tomando café com uma barrinha de pipoca no Pret-a-Manger, ganhando amostra de churrasco vegano (delicioso!) na porta da Whole Foods onde entramos pra admirar as prateleiras de sucos coloridos e cupcakes gluten free e eu acabo saindo com a janta: dois pacotes de pipoca gourmet. A de morango tem gosto de xarope e é meio ácida, a de coco + caramelo é bem melhor, mas meu sabor de pipoca favorito ainda é esse: caseiro, pouco óleo e muito sal, um pano de prato protegendo a mão da quentura que estoura o milho enquanto se sacode a panela até que por fim se faça o silêncio.
Muita manteiga. Mais sal. Enjoy. ♥
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