Wednesday, April 20, 2016

Stray cats in a mad dog city

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A previsão do tempo estava menos horrível e fui para a cidade. Desci do metrô em Swiss Cottage na saída errada e o tempo já tinha nublado de novo. Andei temendo estar perdida por alguns minutos até encontrar meu caminho. Acabei em frente a um Lanka vazio, as vitrines cheias de patisserie francesa com um toque nipônico - mas me sentei com G no café italiano sem graça ao lado, longe das tentações. Resolve is a beautiful thing (repita o mantra e acredite na foto, bicha).

Caminhamos pelas ruas lotadas de camélias, forsítias, tulipas, cerejeiras e magnólias de NW6 e eu já estava elogiando a beleza da área quando G avisou que tudo podia mudar dependendo dos três números seguintes no código de endereçamento postal. Londres tem dessas graças: áreas chiques e buracos dividem espaço no mesmo bairro; às vezes você só precisa virar uma esquina.

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Parei em frente a uma casinha com um tapete de bluebells na frente e uma bike amarela repousando de encontro à fachada, a hera crescendo parede acima. Imaginamos uma vida diferente onde ele era músico de orquestra e eu professora de yoga e seríamos housemates e tomaríamos chá de menta com biscoitos de aveia no jardim, gatos no colo e cachorros sonolentos soltando pulgas aos nossos pés. Eu teria dreadlocks e ele desenharia as minhas tatuagens. Eu remendaria suas meias e reclamaria do seu whisky. Não teríamos televisão, mas muitos discos de ópera e livros cheios de imagens de lugares distantes que faríamos planos de visitar, não fosse a falta de tempo. “Quando a gente se aposentar”, diríamos um pro outro enquanto a chaleira apitava na cozinha e eu colocava teabags em xícaras antigas compradas em brechós, manchadas por gerações de Darjeeling e camomila.

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De lá fomos fazer a minha pesquisa em Kilburn. Passamos por um escola de música, jovens dolorosamente cool com seus penteados e looks elaborados. Ah, ter vinte e pouco anos e orgulho do seu cabelinho ensebado, cara lavada e botas surradas, porque eles fazem você parecer único e livre. Depois a gente envelhece e o que era estilo fica parecendo desleixo. As roupas vão ficando mais limpas e monocromáticas, a gaveta de maquiagem cada vez mais cheia de paliativos, o cabelo se torna algo que requer “manutenção”. Bom, pelo menos se você é mulher, porque certas ansiedades não costumam tirar o sono dos homens. As mocinhas quase quebrando o pescoço pra olhar o G, mas será que elas sabem que ele tem a minha idade? Eu sempre acho graça, mas dessa vez experimento meus cinco segundos de inveja. Deve ser legal ser assim, por pelo menos por 24 horas; talvez não mais do que isso. Certamente não mais do que isso.

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Na hora do almoço encontramos R e uma prima de fora da cidade; a moça queria ir no Pizza Express. Os meninos se entreolharam e riram nervoso. Se você quiser saber onde os londrinos nunca comem, pergunte a um forasteiro onde ele come quando está aqui. No fim das contas o Pizza Express perdeu e acabamos num grill japa em Mayfair, para evidente decepção da moça. De onde caminhamos até a Selfridges porque eu queria comprar um livro (e uma revista que só encontro lá). Eles mudaram um pouco o layout da loja e rodei meio perdida na seção de cosméticos, o que não deixa de ser meio ridículo. Saí sacudindo meu livro na famosa sacolinha amarela, so self important. A tarde começou a correr cada vez mais rápido, a despeito dos turistas passeando calmamente pelas calçadas de Oxford Street, apreciando o aroma dos waffles perto da estação e irritando os locais que sempre têm tanta pressa.

E ao fundo, prestando atenção é possível ouvir o silêncio de fundo da cidade. Um milhão de línguas e buzinas e cheiros e cores e conversas e vidas acontecendo à volta, mas você não ouve nada.

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The spring has returned.

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