Friday, March 06, 2015

6 on 6 [Cemeteries]

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Eu já tinha feito um post sobre o City of London Cemetery antes. Na verdade já fiz outros, sobre vários cemitérios pelo mundo porque aprecio visitá-los e admirar seus exemplos de arte tumular (a gotiquinha em mim diz OI). Por isso não vou me alongar em descrições repetidas; até porque não abandonei os planos de visitar todos os Magnificent Seven (os sete maiores cemitérios de Londres, dos quais eu só conheço dois: Highgate e Brompton). Vou aproveitar o espaço nesse 6 on 6 para reproduzir/desenvolver uma resposta minha a um comentário sobre o assunto.

Cemitérios são a representação tangível da nossa mortalidade. E ninguém gosta de pensar muito nisso, de contemplar a idéia de que terminaremos um dia. Mas fato é que terminaremos e eu não consigo me demorar muito pensando em coisas tristes. Alguns túmulos contam sobre histórias de amor (pessoas que foram casadas por décadas e estão ali juntas), de coragem e sacrifício (todos os mortos de guerra), de carinho (lápides com trechos de música, representações de objetos favoritos, gente que se foi há meio século e ainda continua recebendo flores e tendo o túmulo regularmente limpo). Ou seja, pode ser um conforto se dar conta de que de certa forma continuamos a existir na vida das pessoas para quem fomos importantes.

É comum ouvir que eles têm um “clima pesado”, o que diz muito sobre a nossa relação com a morte. Vejo isso de maneira mais evidenciada no Brasil. No México o dia dos Mortos é uma festa de calaveras coloridas; aqui funerais são celebrações com música, comida e cerveja para brindar o morto. No Brasil o dia 02 de Novembro é um dia tão triste e sombrio que até o clima espelha a vibração: quase sempre amanhece nublado e chuvoso.

Aqui cemitérios são espaços verdes e visualmente agradáveis (muitos turísticos, como o de Highgate, que inclusive cobra ingresso e tem visitas guiadas) floridos, arborizados, com largas avenidas por onde pedestres e carros circulam. Banquinhos de jardim são doados por famílias de pessoas sepultadas ali e os visitantes podem sentar nesses memoriais e apreciar o silêncio e a tranquilidade. Passei várias manhãs ensolaradas de domingo sentada com meu lanche no pequeno (e lindíssimo) cemitério da nossa village em Jersey, observando os fiéis saindo da igreja e o movimento das pessoas entrando na loja de conveniência e no pub.

Nunca me senti triste ali, muito pelo contrário. E não gostaria de estar sepultada num lugar onde os vivos se sentissem mal. Preferiria que as pessoas viessem admirar e fotografar o túmulo, que se sentassem nele para olhar o céu, ler a minha lápide e imaginar como teria sido a minha vida. Me pergunto se a senhorinha falecida em 1896 imaginou que um dia eu estaria sentada no seu túmulo tomando uma coca cola, lendo o seu sobrenome e sabendo que ela foi “uma esposa, mãe e avó muito amada”. Cada uma dessas histórias simboliza o ciclo infinito de renovação do universo, de coisas e pessoas que se vão para que novas coisas e pessoas venham.

Esses lugares deveriam ser sempre bonitos, limpos, inspiradores e bem cuidados, cheios de verde, natureza, crianças correndo e gente fazendo piquenique. Morrer é parte integral de viver; e como nada desaparece de verdade, apenas se transforma, que a gente possa então coexistir.

Outras paradas finais: Taís - Paula - Rita - Sarah - Alessandra

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