Fui dispensada do serviço obrigatório de juri da corte.
Cheguei cedo (apesar da ventania da véspera, que fez estragos aqui no sul da Inglaterra, causou caos no sistema de transportes e prejudicou a viagem de muitos), mas não precisei falar nada com ninguém. Uma sorte, especialmente depois de ter sido destratada na segunda feira quando tentava explicar o meu caso: não posso ser jurada tendo transtorno de ansiedade, mas como eu não trabalho ou recebo benefícios nesse país, nunca achei que seria preciso ter um “crachá” (aka. atestado médico) provando a minha situação.
Estava na sala há alguns minutos, resignada. A ansiedade ainda não havia começado a se manifestar, mas eu sabia que a paz iria durar apenas algumas horas (com sorte) antes que eu começasse a me comportar de maneira errática. Já havia conseguido pegar a cadeira preferida (e necessária; costas para a parede, mesinha em frente, recarregador para os aparelhos), já havia ido ao banheiro. Estava quentinha. Eu estava escrevendo uma mensagem no celular. Foi quando ouvi meu nome; era a supervisora me chamando. Sorrisão, toda simpatia. Levantei-me e ela, ainda exibindo a sua nobre dentição britânica (sem piada, aqui; os dentes da moça são muito bons), disse “pode pegar as suas coisas!” O meu alívio começou a se manifestar no passo apressado com que a segui até o pequeno escritório; refreei a velocidade, tentando manter as aparências. Entrei cautelosa pela porta de vidro - a mesma que eu gostaria que me tivesse sido aberta na véspera, a fim de que eu explicasse meu caso sem que o resto da sala tivesse que ouvir.
Ela, simpatia vazando dos poros, avisou que meu marido havia ligado. Tudo começa a fazer sentido. E que ela sentia muito pelo que estava acontecendo com o meu pai. E que por esse motivo ela ia me dispensar do serviço. Totalmente. E eu, triste e ansiosa como estava, senti minhas mãos aquecerem (sem o suor e a palpitação do dia anterior, no entanto), meus músculos relaxarem. Alívio. Me fez assinar uns papéis de presença, me pediu de volta o cartãozinho da merenda, desejou boa sorte e me disse tchau.
Nunca um adeus foi tão doce.
Ao invés de pegar o elevador direto, desci o primeiro andar pelas escadas a fim de conseguir fazer essa foto da janela (na véspera meu celular estava descarregado).
Old Bailey Court of Justice.
Espero, de coração, nunca mais ver você desse ângulo (ou seja, de dentro).
Próxima parada, estação de Saint Paul.
Pelo caminho, belezas:
Metrô pra casa. Central line, eastbound.
Depois de algumas estações, ele ficou só pra mim, Como isso é raro.
E ao passar o Oyster card e sair da estação, ver tantas folhas ainda nas árvores e perceber que o outono havia resistido à ventania de ontem:
Tal como eu espero resistir também.
A todas as ventanias, vendavais, tempestades e tufões. Me and my loved ones. Strenght. Faith. O alívio virá.
{ voltaremos em breve com a programação normal Tokyo Tales. :) }
Cheguei cedo (apesar da ventania da véspera, que fez estragos aqui no sul da Inglaterra, causou caos no sistema de transportes e prejudicou a viagem de muitos), mas não precisei falar nada com ninguém. Uma sorte, especialmente depois de ter sido destratada na segunda feira quando tentava explicar o meu caso: não posso ser jurada tendo transtorno de ansiedade, mas como eu não trabalho ou recebo benefícios nesse país, nunca achei que seria preciso ter um “crachá” (aka. atestado médico) provando a minha situação.
Estava na sala há alguns minutos, resignada. A ansiedade ainda não havia começado a se manifestar, mas eu sabia que a paz iria durar apenas algumas horas (com sorte) antes que eu começasse a me comportar de maneira errática. Já havia conseguido pegar a cadeira preferida (e necessária; costas para a parede, mesinha em frente, recarregador para os aparelhos), já havia ido ao banheiro. Estava quentinha. Eu estava escrevendo uma mensagem no celular. Foi quando ouvi meu nome; era a supervisora me chamando. Sorrisão, toda simpatia. Levantei-me e ela, ainda exibindo a sua nobre dentição britânica (sem piada, aqui; os dentes da moça são muito bons), disse “pode pegar as suas coisas!” O meu alívio começou a se manifestar no passo apressado com que a segui até o pequeno escritório; refreei a velocidade, tentando manter as aparências. Entrei cautelosa pela porta de vidro - a mesma que eu gostaria que me tivesse sido aberta na véspera, a fim de que eu explicasse meu caso sem que o resto da sala tivesse que ouvir.
Ela, simpatia vazando dos poros, avisou que meu marido havia ligado. Tudo começa a fazer sentido. E que ela sentia muito pelo que estava acontecendo com o meu pai. E que por esse motivo ela ia me dispensar do serviço. Totalmente. E eu, triste e ansiosa como estava, senti minhas mãos aquecerem (sem o suor e a palpitação do dia anterior, no entanto), meus músculos relaxarem. Alívio. Me fez assinar uns papéis de presença, me pediu de volta o cartãozinho da merenda, desejou boa sorte e me disse tchau.
Nunca um adeus foi tão doce.
Ao invés de pegar o elevador direto, desci o primeiro andar pelas escadas a fim de conseguir fazer essa foto da janela (na véspera meu celular estava descarregado).
Old Bailey Court of Justice.
Espero, de coração, nunca mais ver você desse ângulo (ou seja, de dentro).
Próxima parada, estação de Saint Paul.
Pelo caminho, belezas:
Metrô pra casa. Central line, eastbound.
Depois de algumas estações, ele ficou só pra mim, Como isso é raro.
E ao passar o Oyster card e sair da estação, ver tantas folhas ainda nas árvores e perceber que o outono havia resistido à ventania de ontem:
Tal como eu espero resistir também.
A todas as ventanias, vendavais, tempestades e tufões. Me and my loved ones. Strenght. Faith. O alívio virá.
{ voltaremos em breve com a programação normal Tokyo Tales. :) }
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