Tuesday, October 30, 2007

Boot car

eu publiquei essa história há dois meses atrás no livejournal, quando voltei de férias.
como acabei resolvendo fechar o livejournal com senha, a história não está mais disponível, e eu achei uma pena porque gosto muito dela. eis a razão para que ela esteja fazendo uma segunda aparição (me perdoem os que já leram).

No final dos anos 60, um menininho inglês passava as férias escolares com a família na Europa. Seus pais estavam a caminho do pier de Estocolmo, de onde embarcariam para a Finlândia (ou seja, um trajeto bastante similar ao que eu mesma fiz). Os olhos do menino percorrem a paisagem plana e monótona da escandinávia e, no bolso da jaqueta, como sempre, seu carrinho de brinquedo favorito, companhia constante de viagens que ele carinhosamente chama "boot car" (porque se podia abrir o "boot", o porta-malas na parte de trás).

Numa dessas paradas para café e xixi, o menino esquece o carrinho querido num banheiro qualquer de beira de estrada. Infelizmente todos estão atrasados para pegar o barco e não podem voltar para procurar. Uma semana e muitas lágrimas depois, a família já de volta à Suécia retorna ao mesmo restaurante mas, como era de se esperar, ninguém sabe do carrinho. Não está mais lá. Certamente perdido para sempre. Mas não da memória; mesmo com o passar dos muitos anos, o menininho nunca esquece o seu Boot Car. Mais tarde tenta comprar um parecido, mas a empresa, Corgi Toys, não existe mais.

Quase 40 anos depois, ele está novamente de férias na Suécia. Sua esposa, viciada em tralhas, é atraída pela vitrine de um legítimo bric-a-brac europeu. A loja é uma bagunça formidável, não se encontra nada que não esteja coberto por pelo menos dois centímetro de poeira antiga, nada tem preço e tudo se encontra amontoado em pilhas pelos cantos. Por todo o lado há resquícios de antigas repúblicas socialistas, miniaturas de bustos de lênim, bandeiras da antiga União Soviética. Um velho sentando no fundo da loja a olha com uma cara de pouquíssimos amigos e ela, intimidada, resolve sair de fininho. Ele, que havia ficado do lado de fora fotografando prédios, vem em sua direção e os dois param em frente à vitrine enquanto ela reclama da antipatia do vendedor.

É quando ele aponta para algo no fundo da vitrine.


Yep, happy endings não acontecem só no cinema.
(o carro foi entregue embalado num guardanapo do... McDonalds. Sim, Mr. Antipatia - muy socialista de sua parte...)

Mas isso não importa.
O que importa: Boot Car voltou para casa.

1 Comments:

  1. Que história tocante. Comigo aconte algo parecido. Estava no colo da minha mãe indo à uma consulta médica. Havia chovido, e ao passar por uma imensa poça de lama,minha pulseira caiu do braço, perdendo se para sempre. Durante anos essa perda me causou sofrimento. Eu tinha quatro anos.

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