um mês sem wi-fi, sem computador e sem vontade de fazer fotos porque você sabe que a única câmera que tinha coragem de levar para a rua não era boa - nada disso serve de estímulo para a blogueira old school cansada de guerra. apesar de tudo esse setembro passou rápido e aqui estou, tentando livrá-lo de passar também em branco.
setembro não foi agradável, não foi particularmente memorável, e fora ter encontrado os amigos que sobraram (e principalmente, os que ainda queriam ser encontrados) não tenho muita história pra contar ou fotos para mostrar.
a visita não foi de lazer. foi necessária, para resolver perrengues de família. crianças, saibam que morrer é feio, morrer é caro, morrer é inconveniente e traz à tona uma série de pequenos horrores que devíamos poder enterrar junto com o morto - mas que infelizmente acabam fazendo parte do legado. pouca coisa foi resolvida devido à preguiça, à má vontade, a implicância e, no meu caso, sobretudo ao calor - você tem vontade de viver quando os termômetros acusam 37 graus em pleno INVERNO?
essa visita foi triste. pelas circunstâncias, claro. mas também por ver a cidade avançando lenta, cercada de engarrafamentos - consequência de obras e “melhorias” no transporte que ninguém pediu e que beneficiaram poucos. as sombras humanas da cracolândia saem de trás das sombras imaginárias dos viadutos demolidos, disputando espaço no meio das pistas paradas da avenida brasil com homens jovens e torrados de sol vendendo panos de chão. há os que preferem o ar condicionado dos trens e penduram nos vagões as barraquinhas móveis de doces, carregadores de celular, salaminho, detergente, óculos falsificado - o “xópi supervia” que funciona até o encerramento dos serviços e onde comprei paçoca vencida pra ajudar o tio sem perna que me chamou de princesa.
a violência esvaziou as ruas do subúrbio, silenciou o falatório nos becos das favelas, fez a zona sul se esconder da vida real em ubers com balinha e água gelada e limpou as calçadas da zona norte da presença certeira de tias e vós e novinhas e mulekes. refiz trajetos conhecidos de uma vida inteira, mas as ruas desertas agora parecem cenário de silent hill; engoli um solucinho carregado de nostalgia triste ao passar pela tia “olhando as modas” numa cadeira de praia na calçada com marido, cachorro e netos. apelidei meu celular de “celulunda” já que nas raras vezes em que ele saiu para a rua foi preso no elástico das minhas calcinhas, escorregando perigosamente no suor em direção ao asfalto. as pessoas usam seus aifônes de última geração na sala de casa, mas vão trabalhar com um lenovo de 300 reais no bolso - o “celular do ladrão”. qual a graça?
a cidade tão linda, a arquitetura colonial do centro, a geografia que beira o impossível, a mata atlântica cobrindo a serra, o mar infinito e aquele famoso e aplaudido pôr do sol - que você só pode ver da janela, trancado em casa ou pelo vidro do carro morrendo de medo de entrar por engano onde não deve. fui poucas vezes para a zona sul e num desses dias aconteceu um assalto (feat. tiroteio) a poucas quadras de onde eu estava. amiga da minha mãe foi baleada dentro do ônibus, sete e meia da manhã, indo para o trabalho. a cada anoitecer eu era grata por ter sobrevivido, mas o “acabou” que eu ouvia em silêncio na minha própria voz não se referia ao fim do dia.
⤫ NOPE
⤫ O CALOR O CALOR O CALOOOOOOOOOOOR
⤫ as empresas de ônibus que reduziram severamente a frota; a frequência de certas linhas caiu pela metade.
⤫ o bolo red velvet HORROROSO que eu comi no starbucks. gosto de sabão. só conseguiu ser melhor do que a torta HORROROSA que eu comi na lecadô. nauseantemente doce, massa anguzenta. yuck.
⤫ CPF pra usar o wi-fi do shopping (que não funcionava anyway), CPF pra se registrar na lanráuse, CPF pra receber nota fiscal na casa e vídeo; what the fuck?
⤫ os 2 pratos + 2 guaravitas num restaurante a quilo que me custaram 72 reais.
⤫ QUE LOTE DE NOVELA RUIM DO INFERNO, MELDELS
⤫ três semanas ouvindo minha mãe reclamar do vaso sanitário entupido sem que ela fizesse absolutamente nada para consertá-lo. ORAR NÃO VAI FAZER O COCÔ DESCER MÃE; JESUS ERA CARPINTEIRO, NÃO ENCANADOR.
⤫ não tem máquina de refrigerante no shopping. ou você paga um órgão vital e meio num restaurante da praça de alimentação ou bebe água morna da pia do banheiro.
⤫ o estado de abandono (imundície, pivetes, drogados, poeira das obras do VLT) em que a central do brasil se encontra - especialmente o terminal américo fontenelle.
⤫ os botecos trocando as queridas porções de calabresa, aipim frito e frango à passarinho por invenções hipsters como bolinho de feijoada e tortinha de quinoa - tudo sem graça, sem gosto e sem noção de tão caro.
⤫ legumes mirrados, passados, sujos e vendidos a peso de ouro. um país que produz tanto e com tamanha variedade/qualidade não precisa forçar essa xepa deprimente no povo.
⤫ 47 reais por dois potinhos de frozen yogurt num shopping da baixada. ouch.
⤫ certos sotaques cariocas miserentos: “uaish passarinhuaish, uaish miquinhuaish, tão bunitinhuaish néam?” - argh.
⤫ revistas nacionais custando em reais o mesmo preço que as daqui custam em libras.
⤫ É DÉÉÉBITO OU CRÉÉÉÉDITOOO?
⤫ a coxinha congelada (o recheio estava sólido) que me serviram num boteco na penha e que me esfriou a alma.
⤫ reaprender a jogar o papel no cesto do banheiro e não na privada.
⤫ passageiros “espaçosos” que se expandem feito gás pra ocupar todo o banco do ônibus.
♡ YUP
♡ os novos trens com ar condicionado que me levavam de A a B passando por Z e me custaram apenas 4 reais e 20 centavos.
♡ a melancia gigante que ganhei da minha prima e trouxe no ônibus dizendo pra mim mesma I CARRIED A WATERMELON (dirty dancing ♥)
♡ os beija flores se entupindo de sacarose na janela da minha mãe.
♡ as “tia” do brasil; a gente tropeça na rua e do nada se materializam 30 tias com gelinho e pomadinha e copo d'água. mesmo que você também seja uma tia.
♡ café com bolo no shopping da gávea reclamando do brasil com o amigo que vai te ouvir e entender que a sua necessidade de desabafar frustração naquele momento é mais importante que o impulso dele de defender o país. ♥
♡ a programação eclética do posto ypiranga na frente do apartamento da minha mãe (e ao lado de um puteiro). as putas saem no fim da madrugada e continuam a balada no posto, os alto-falantes dos carros tocando funk proibidão, depeche mode, red hot chilli peppers, pet shop boys, o rappa, iron maiden e haddaway. WHAT IS LOVE? BABY DON’T HURT ME, DON’T HURT ME, NO MORE. às quatro da manhã a janela chegava a tremer com a altura do som (nóis não dorme, mas se diverte)
♡ pessoas que te chamam de amor, querida, amada, BEBÊ. com vozinha fofa e hiper modulada. deveria soar falso, mas você sabe que não é.
♡ a filial roots do bob’s em xerém: layout de pensão da tia genoveva servindo os famosos milkshakes de ovomaltine em mesas de compensado.
♡ churros fálicos degustados às margens da lagoa apreciando os pedalinhos, curtindo a brisa e rezando pra não ser assaltada.
♡ os anúncios de “penção/polsada” pixados pelos muros da av. brasil (diária de 25 reais, café da manhã e wi-fi incluído) que sempre me faziam rir no ônibus.
♡ show do pet shop boys no rock in rio e todos os adolescentes na primeira fila; eles nem eram nascidos quando eu voltava da escola ouvindo domino dancing no walkman. fé na humanidade restaurada.
♡ batata frita de marechal hermes com pedaços de bacon, linguiça, frango e cheddar - very good, mas recomendo um saco individual ao invés de dividir.
♡ subir os degraus da igreja da penha pra bater papo com os urubus nas alturas.
♡ o bolinho de chuva com pedaços de banana da minha tia, uma instituição familiar.
♡ a praça de alimentação gourmet do prezunic com burger king, mcdonalds e habibs.
♡ padaria em santo aleixo às margens da cachoeira onde tomei cafezinho, comi bombocado e um salgado de calabresa que realmente continha calabresa - shocker.
♡ subir a serra velha da estrela em direção a petrópolis, ir para teresópolis via guapimirim, o dedo de deus, o parque nacional da serra dos órgãos, as cachoeiras de magé e os biscoitinhos amanteigados serranos (que agora a gente encontra em todo lugar, cabô a magia).
♡ o inverno brasileiro com cara de outono: folhas mudando de cor nas amendoeiras.
♡ o baile “flashback” no clube dos 500, uma instituição da cidade.
♡ bolo de paçoca com goiabada + cuca de banana que as amigas trouxeram pra tomar café comigo e falar um sem número de bobagens/experimentar roupas/reclamar de políticos/reclamar de macho.
♡ ver minhas fotos espalhadas pelo apartamento do meu pai, cartões de natal meus que ele havia guardado, achar a primeira carteira de trabalho que ele tirou na vida (aos 14 anos!) e o pente ainda cheio de fios de cabelo que eu trouxe comigo. ♥
escrevo isso de pijama, curtindo os primeiros dias perfeitos de outono (sol, 18 graus) e sem a menor pressa de sair desse sofá. i’m safe at home, and feeling safe is good.
rio, vamos dar um tempo. ainda te acho gato e interessante, mas me liga quando você resolver essas tendências violentas, ok? de longe eu vou torcer por você, como sempre fiz, porque você ainda é bae. e o primeiro amor nem sempre é o melhor amor, mas sempre vai ser o primeiro amor. e tem muito valor agregado nisso.
get well soon, dear. see ya. ♥
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