Tuesday, December 06, 2016

November



eis o inverno, que começou *meteorologicamente* cinco dias atrás (astrologicamente no dia 21) e só restam os carvalhos ainda por se desfolhar. o centro está intransitável e lotado de turistas; já fiz as minhas "compras de natal" (1 pacote de 10 cartões a ser dividido entre a família do respectivo e as amigas aqui que apreciam recebê-los) e entrei em hibernação física e financeira até janeiro. torço por alguns dias de sol e frio proporcionando muitas caminhadas de fim de semana no campo - com quentão no pub pra encerrar.



aberta também a temporada de engorda natalina. já matei dois panetones e duas caixas de mince pies - e eu nem GOSTO muito de mince pies, mas alguma bruxaria faz com que elas se tornem extremamente comíveis nessa época do ano. respectivo queria assar um ganso pra ceia (e ficou sem entender quando eu perguntei se ele ia "afogar" o bicho antes; #LostInTranslation) mas eu acho que vou começar a fazer um lobby pra substituir a ave aquática por um tender bolinha. porque pork is the best meat e porque vou me sentir mal degustando um daqueles pássaros que me deixam encantada ao sobrevoar a minha casa aos berros o ano inteiro. (ok, let's get real: o ganso vai sujar mais tabuleiro e panela)



falando em animais, tivemos um agradável encontro com os veadinhos de richmond park. muitas pessoas me perguntam como fazer para vê-los, já que foram ao parque mas não encontraram nenhum. é meio complicado, mesmo. pra começar, sem carro fica difícil. richmond é um parque MUITO grande e não dá pra sair catando veado a pé. eles raramente se aproximam dos portões de entrada porque essas áreas costumam ficar lotadas de gente. é preciso também ter sorte de avistá-los próximos de algum estacionamento; é proibido parar o carro fora deles. nesse dia tudo deu certo: tempo firme, relativa ausência de multidões (bless winter) e a boa vontade dos galhudinhos em se exibir. ♥



outro dia tentando fotografar animais, só que com menos sucesso. fui severamente esnobada pelas gaivotas litorâneas em bognor regis, e consegui apenas uma meia dúzia de registros ruins - as penosas fizeram as divas e saíam voando me deixando na poeira. NO PAPARAZZI. aposto que se eu tivesse levado um saco de pão velho as mercenárias teriam se engraçado. fica a dica para a próxima vez, que NÃO será em bognor regis porque o lugar é meio deprê (especialmente nessa época do ano): nenhum restaurante na orla, nenhum salão de chá, quadras de apartamentos feios de concreto, uma única loja mirrada e triste vendendo ímãs de geladeira e sorvetes que pareciam vômito e ainda levamos multa por estacionar em local indevido (a placa estava semi-obliterada por cocô de gaivota. great).



em novembro a cidade começa a se enfeitar para as festividades; essa é decoração de natal na burlington arcade. sei lá como vou fazer esse ano pra curtir o clima festivo de londres, já que não apresentei até agora a mínima vontade de encarar multidões e brincar de salto com obstáculos pelas calçadas lotadas. até queria ver e fotografar algumas vitrines, fachadas e decorações natalinas (será o primeiro ano que eu NÃO irei a covent garden?) mas tá difícil reunir coragem. acho que vou apenas curtir as fotos alheias no instagram e ficar tomando chá debaixo de dois edredons com minhas meias de pele (fake) novas.



aquelas fotos bestas feitas por acaso e que nunca sairiam do cartão de memória - mas algo nelas fala com você. tarde de domingo em ingatestone, os dois adolescentes vestindo o uniforme de agasalhos e tênis típico da juventude caminham cabisbaixos por uma rua deserta em direção ao pôr do sol. passei tantos domingos chatos como esse exatamente assim, percorrendo quilômetros e mais quilômetros de calçadas de subúrbio na companhia de algum(a) amigo(a) tão desesperado(a) quanto eu para estar em qualquer outro lugar, finalmente "vivendo a vida de verdade". ou simplesmente encerrando a semana com uma daquelas conversas profundas sobre o futuro que a gente só tem aos 16 anos. eu me vi nesses dois e se pudesse ter ouvido a conversa ficaria desapontada caso eles não estivessem praguejando por morar naquele fim de mundo e fazendo planos de sair por aí algum dia e não voltar. e eu percebi que a lolla de 16 anos não sabia, mas às vezes a gente vai preenchendo o vazio de modo bastante satisfatório com coisas bem mais simples e mundanas que viagens, fama e dinheiro - como essa amizade e aquele pôr do sol, por exemplo. e que essas coisas, mais do que qualquer ambição megalomaníaca ou promessa de felicidade instantânea, são a vida de verdade. mas que o vazio existe sim, e é um buraco mais fundo do que parece, e certas partes dele não serão preenchidas, jamais.

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