Poucos lugares são tão vibrantes quanto as ruazinhas que irradiam de Covent Garden num sábado à tarde. Bares, pubs, casas de shows, restaurantes, padarias japonesas, livrarias especializadas em BDSM, lojas de tralhas shabby chic feitas à mão, de brinquedos usados e baratos, de fantasias de teatro, patisseries, sex shops - se você pensou, você provavelmente encontra.
La Gelatiera não é, no entanto, o melhor sorvete do mundo. Certamente não é o melhor de Londres; quiçá nem mesmo de Covent Garden. Achei bem mais ou menos, para ser honesta, e me pergunto de onde saiu aquela pequena fila na porta e como nasce o “hype” de certos lugares. Decidiu-se que um restaurante indiano é “cool” (e ele certamente estará localizado numa vizinhança cara/alternativa) e que por estar sempre lotado ele não aceita reservas e você verá filas na porta todos os dias da semana. Isso porque o que não falta aqui são restaurantes indianos (na mesma proporção em que há botecos de esquina no Brasil) mantidos por famílias que estão no ramo há décadas e são absolutamente deliciosos. Mas as mesas de fórmica sem finesse ou design vão ficar vazias, porque a eles falta o Fator X.
Londres é uma cidade jovem, hipster, pretensiosa e disposta a tudo para parecer cool. Sim, você se sente no centro do universo, como se tudo fosse possível, existisse e estivesse ao alcance da sua mão (ou dos seus pés, ou de 15 minutos na Central line do Undergound): de museu viking a festas com encenação de filmes, de delivery de comida russa a picolés de nitrogênio líquido. Todos os eventos, os mercados, as festas, as exibições, as convenções, os festivais de música, as lojas e restaurantes “pop up” (que vão abrir por uma semana ou um mês e depois desaparecer sem deixar traços em nome da “exclusividade” - e durante todo o tempo terão filas quilométricas na porta) num redemoinho constante de novidade que acaba se tornando monótono e cansativo. Porque exagerado, porque às vezes forçado, porque povoado de gente que espera que um pouco daquela aura interessante e descolada acabe impressa em suas próprias personalidades por osmose. “Se eu frequentar esses lugares, se eu for visto nesses lugares, eu vou ser parte da novidade e tão bacana quanto. A bit of the sparkle is bound to rub off on me!”
Não quero soar ingrata porque estou aqui, e grata por estar, aproveitando o que a cidade me oferece dentro dos limites das minhas possibilidades financeiras. E a vida é pra se viver. Mas há pessoas que mal dormem de tanta ansiedade para conseguir juntar a grana do aluguel caríssimo do quarto onde vivem, mas estão sempre pagando caro em coquetéis com nomes complicados servidos em pipetas ou vasos de plantas, ou de pé num food truck comendo um sanduíche de queijo que custou o equivalente à conta do mercado da semana. Porque deixar essas coisas passarem significa ficar para trás, e não dá pra colocar uma noite sozinho em casa com pizza, pijama e Netflix no Instagram.
Quer dizer, cada um faz o que quer do seu suado bufum, mas. Isso é meio louco.
The sparkle will fade. And in the end you will be left with your true colours, your actual interests and hobbies (things you want to do, not what you think you should be doing) and friends and family that love you for what you are. Warmth doesn’t always shine, but it can be felt and it can be trusted.
E elas demoraram a vir e se foram tão rápido que nem consegui ver a chuva de pétalas da despedida. Um dia a minha cerejeira tinha deixado cair algumas flores inteiras no chão; no outro era só folhas. Que pena. Mas que beleza, enquanto dura. Até o ano que vem, cherry blossoms. You’re worth the wait.
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