E
hoje eu fui pro cemitério. Não, não fui pro de Inhaúma ver o meu
padrasto (nem minha mãe foi). Fui fazer fotos no São João Batista. Eu
sabia que ir dar merda. Tumulto. Mas eu estava com uma sensação
esquisita, não queria ficar em casa. Acho que, inconscientemente, nem
foi pra fotografar que eu saí. Cismei, pus a câmera na mochila e rua.
Cheio, claro. Mas não tanto quanto eu esperava. No meio das sepulturas, eu observava as pessoas. Sou habituê de cemitérios; como sabem, pirigótica. Curioso que depois do advento da câmera digital eu não tenha feito nenhuma imagem. Não foi diferente hoje: vinte minutos depois que entrei, dei um esbarrão numa garota de jeans e cabelo castanho claro muito liso preso num rabo-de-cavalo. Era uma conhecida minha, da primeira faculdade que fiz. Perguntei o que ela fazia ali, meio que prevendo má notícia. A mãe dela morrera há pouco mais de um mês.
Fiquei sem a menor condição de sair fotografando anjinho barroco e velas apagando na chuva. Caminhamos até a sepultura da mãe e fiquei lá sem saber o que dizer, onde colocar as mãos, essas coisas. Depois saí e a deixei sozinha com seus pensamentos. O pai estava doente e não pôde vir, o irmão não estava nem aí. Ela veio só. Achei triste, mas ainda assim na saída entrei numa lanchonete pra beber cerveja.
Enterros... O primeiro que acompanhei foi o do meu padrasto. Das vezes anteriores, quando eu estava num cemitério lendo tumbas e vinha chegando um enterro eu caía fora apavorada, com medo de ver o defunto (porém morta de curiosidade). A verdade é que eu odiei ver aquela pessoa que conviveu comigo por 11 anos sendo enfiada numa gaveta de cimento, coroas de flores e homenagens sendo amassadas e empurradas com violência pra dentro e por fim o cimento fresco vedou a parede pra sempre, encerrando 61 anos de vida e experiências em um espaço de 2x1m.
Eu prefiro ser cremada.
Minha mãe hoje se lembrou do enterro do Tio Dutinho. Gente simples, vida longa que findou num câncer. A família levou velas e flores baratas para um cemitério que ficava na encosta de um morro. Uma cruzinha aqui, outra acolá bem longe, poucas sepulturas - a maioria enterrada no chão. Lá embaixo as luzes dos quintais das casas acendiam ao entardecer. Minha mãe achou que ele estaria feliz ali. Coisa feita com mais sentimento. A impressão foi a de que os parentes do meu padrasto queriam "acabar logo com aquilo". Não apenas porque a situação fosse dolorosa, e sim porque havia outras coisas com as quais se preocupar: herança, negócios, carro, dinheiro, inquérito. Triste. Eu prefiro ser enterrada como indigente por coveiros desconhecidos mas reverentes à morte do que por "famílias" feito essas.
Cheio, claro. Mas não tanto quanto eu esperava. No meio das sepulturas, eu observava as pessoas. Sou habituê de cemitérios; como sabem, pirigótica. Curioso que depois do advento da câmera digital eu não tenha feito nenhuma imagem. Não foi diferente hoje: vinte minutos depois que entrei, dei um esbarrão numa garota de jeans e cabelo castanho claro muito liso preso num rabo-de-cavalo. Era uma conhecida minha, da primeira faculdade que fiz. Perguntei o que ela fazia ali, meio que prevendo má notícia. A mãe dela morrera há pouco mais de um mês.
Fiquei sem a menor condição de sair fotografando anjinho barroco e velas apagando na chuva. Caminhamos até a sepultura da mãe e fiquei lá sem saber o que dizer, onde colocar as mãos, essas coisas. Depois saí e a deixei sozinha com seus pensamentos. O pai estava doente e não pôde vir, o irmão não estava nem aí. Ela veio só. Achei triste, mas ainda assim na saída entrei numa lanchonete pra beber cerveja.
Enterros... O primeiro que acompanhei foi o do meu padrasto. Das vezes anteriores, quando eu estava num cemitério lendo tumbas e vinha chegando um enterro eu caía fora apavorada, com medo de ver o defunto (porém morta de curiosidade). A verdade é que eu odiei ver aquela pessoa que conviveu comigo por 11 anos sendo enfiada numa gaveta de cimento, coroas de flores e homenagens sendo amassadas e empurradas com violência pra dentro e por fim o cimento fresco vedou a parede pra sempre, encerrando 61 anos de vida e experiências em um espaço de 2x1m.
Eu prefiro ser cremada.
Minha mãe hoje se lembrou do enterro do Tio Dutinho. Gente simples, vida longa que findou num câncer. A família levou velas e flores baratas para um cemitério que ficava na encosta de um morro. Uma cruzinha aqui, outra acolá bem longe, poucas sepulturas - a maioria enterrada no chão. Lá embaixo as luzes dos quintais das casas acendiam ao entardecer. Minha mãe achou que ele estaria feliz ali. Coisa feita com mais sentimento. A impressão foi a de que os parentes do meu padrasto queriam "acabar logo com aquilo". Não apenas porque a situação fosse dolorosa, e sim porque havia outras coisas com as quais se preocupar: herança, negócios, carro, dinheiro, inquérito. Triste. Eu prefiro ser enterrada como indigente por coveiros desconhecidos mas reverentes à morte do que por "famílias" feito essas.
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