Eu estava de costas para um dos pilares do coreto. A tarde indo embora
rĂ¡pido demais, mas esquecendo acesas a luz das estrelas. O vento me
dava tapinhas na cara, como se irado com a minha bobice. Ele estava ali,
eu estava lĂ¡, nos braços dele, eu sentia a ponta dos seus dedos nas
minhas costas. Minha boca a centĂmetros da pele do seu pescoço. E eu
estava em pĂ¢nico. Um pĂ¢nico tĂ£o grande que eu nĂ£o conseguia me lembrar
de que devia estar feliz.
De repente os lĂ¡bios dele tocaram a minha testa. Nem vou falar no efeito de descargas elĂ©tricas que isso causou, porque Ă© um clich - mas sĂ£o descargas elĂ©tricas, oras... NĂ£o direi que foram cĂ³cegas em todas as cĂ©lulas do meu corpo porque nĂ£o foram. Ou melhor, foram tambĂ©m. Mas as descargas elĂ©tricas... Quem descreveu primeiro dessa forma o efeito do toque dos lĂ¡bios do seu Deus Particular na sua testa, estava com a razĂ£o. E nunca serĂ¡ desmentido.
- Eu quero aquele beijo agora.
“NĂ£o, vocĂª nĂ£o estĂ¡ dizendo isso”. Eu pensei enquanto sentia os lĂ¡bios dele se moverem colados Ă minha pele. Frio na barriga, calor no peito, eu estava num estado de multi-temperaturas. O pĂ© estava morno. A boca seca, quase desĂ©rtica. Um rolo compressor me amassava os membros e o pulmĂ£o, eu nĂ£o podia me mover e nem respirar, e meu cĂ©rebro tinha virado vitamina de banana. Que devia estar fervendo, pois minha cabeça derretia. Tive atĂ© medo de queimar os lĂ¡bios dele que, sempre colados Ă minha pele, falavam coisas que eu nĂ£o era mais capaz de ouvir. E eu tinha certeza que o meu coraĂ§Ă£o batia tĂ£o forte que tamborilava no peito dele. E ele era um idiota se nĂ£o percebia. Os braços que envolviam a minha cintura machucavam, desacostumada que eu sou de carinhos. NĂ£o, ele nĂ£o pode estar me pedindo um beijo. Porque eu nĂ£o posso negar, mas eu preciso negar.
- Eu nĂ£o posso.
- Por favor.
NĂ£o peça, pensei. Mas ele nĂ£o ouviu. Soltou meu corpo, tomou minhas mĂ£os geladas-quentes e ajoelhou-se aos meus pĂ©s. E pediu teatralmente, rindo com os lĂ¡bios que estariam nos meus tĂ£o logo eu permitisse, mas algo na respiraĂ§Ă£o dele traĂa nervosismo. Eu estava aprendendo a ler a respiraĂ§Ă£o dele, os sinais do seu corpo. Bad news.
SĂ³ que nĂ£o ia ter beijo. Ora Diabos, eu sou uma menina triste. Eu ouço mĂºsicas tristes em dias chuvosos, eu moro com gente rĂºstica, eu passo tardes sendo poser lendo Byron em cemitĂ©rios, eu nĂ£o me lembro mais do rosto de algumas pessoas que amei, eu troquei amigos por um diĂ¡rio e choro em comĂ©dias porque elas me lembram que eu nĂ£o sei rir. Meninas como eu nĂ£o beijam. Meninas como eu jamais terĂ£o na boca outra lĂngua que nĂ£o seja a prĂ³pria. Meninas como eu nĂ£o se deixam apalpar. Meninas como eu nĂ£o sentem coisas. Ok, eu sinto coisas e continuo sendo eu apesar disso. Quem sabe se eu fizesse as outras coisas nĂ£o poderia continuar sendo EU tambĂ©m?
NĂ£o. NĂ£o vale a pena arriscar. Eu nĂ£o vou trair o “movimento das meninas tristes que nĂ£o tĂªm namorado”, nem o “movimento das meninas mal-amadas porque nĂ£o podem amar”. Eu nĂ£o vou cruzar a faixa. NĂ£o vou ultrapassar a linha amarela. NĂ£o vou dar uma reviravolta de nĂ£o-sei-quantos graus na minha vida. NĂ£o cabem reviravoltas na minha vida. SĂ³ as que me jogam no chĂ£o. E ele nĂ£o era o chĂ£o. Ele era o cĂ©u, o paraĂso, o horizonte com luzinhas de estrelas histĂ©ricas faiscando. Ele era tudo o que eu nĂ£o podia tocar, porque nĂ£o merecia.
Eu nĂ£o vou destruir com um beijo real a mĂ¡gica que Ă© fantasiar beijos improvĂ¡veis, noites a fio. Eu nĂ£o vou trocar as noites que ardi abraçada a um travesseiro fervendo de desejo por noites abraçada a um homem que me farĂ¡ virar outra pessoa. Eu nĂ£o sei se quero ser outra pessoa. NĂ£o sei se quero evoluir, feito um PokĂ©mon. Eu nĂ£o vou renegar meu lado perdedor. AtĂ© porque ele Ă© o Ăºnico que tenho.
- Eu queria que a gente fosse sĂ³ amigos…
E ele se ergueu devagar. Ia me dizer alguma coisa crucial, mas eu nunca saberei o que era pois feito a idiota que sou o interrompi com uma observaĂ§Ă£o estĂºpida:
- Seus olhos estĂ£o tristes.
E estavam. Era como se alguma das mĂºltiplas luzinhas que piscavam desde sempre dentro deles tivesse queimado, e em efeito cascata, todas as outras fossem se apagando. Isso. Havia um curto circuito dentro dos olhos dele. Sem incĂªndios farfalhantes, sĂ³ o apagar melancĂ³lico das luzes que iam morrendo. Perguntei o que era.
- Nada. Peito pesado, sei lĂ¡.
“Sinal de que tĂ¡ cheio”, eu respondi. Nossa mĂ£e. Naquela tarde eu havia pedido para ser imbecil e estava abusando da permissĂ£o.
- NĂ£o. Corações vazios Ă© que pesam.
- Haha, corações desafiam as leis da fĂsica? (eu avisei)
E entĂ£o ele riu. Mas eu podia jurar que nĂ£o estava feliz.
- Eles nĂ£o obedecem lei alguma.
Verdade. Mas eu nĂ£o sei. Eu sĂ³ obedeço Ă s minhas.
Por mais estĂºpidas que elas possam parecer.
De repente os lĂ¡bios dele tocaram a minha testa. Nem vou falar no efeito de descargas elĂ©tricas que isso causou, porque Ă© um clich - mas sĂ£o descargas elĂ©tricas, oras... NĂ£o direi que foram cĂ³cegas em todas as cĂ©lulas do meu corpo porque nĂ£o foram. Ou melhor, foram tambĂ©m. Mas as descargas elĂ©tricas... Quem descreveu primeiro dessa forma o efeito do toque dos lĂ¡bios do seu Deus Particular na sua testa, estava com a razĂ£o. E nunca serĂ¡ desmentido.
- Eu quero aquele beijo agora.
“NĂ£o, vocĂª nĂ£o estĂ¡ dizendo isso”. Eu pensei enquanto sentia os lĂ¡bios dele se moverem colados Ă minha pele. Frio na barriga, calor no peito, eu estava num estado de multi-temperaturas. O pĂ© estava morno. A boca seca, quase desĂ©rtica. Um rolo compressor me amassava os membros e o pulmĂ£o, eu nĂ£o podia me mover e nem respirar, e meu cĂ©rebro tinha virado vitamina de banana. Que devia estar fervendo, pois minha cabeça derretia. Tive atĂ© medo de queimar os lĂ¡bios dele que, sempre colados Ă minha pele, falavam coisas que eu nĂ£o era mais capaz de ouvir. E eu tinha certeza que o meu coraĂ§Ă£o batia tĂ£o forte que tamborilava no peito dele. E ele era um idiota se nĂ£o percebia. Os braços que envolviam a minha cintura machucavam, desacostumada que eu sou de carinhos. NĂ£o, ele nĂ£o pode estar me pedindo um beijo. Porque eu nĂ£o posso negar, mas eu preciso negar.
- Eu nĂ£o posso.
- Por favor.
NĂ£o peça, pensei. Mas ele nĂ£o ouviu. Soltou meu corpo, tomou minhas mĂ£os geladas-quentes e ajoelhou-se aos meus pĂ©s. E pediu teatralmente, rindo com os lĂ¡bios que estariam nos meus tĂ£o logo eu permitisse, mas algo na respiraĂ§Ă£o dele traĂa nervosismo. Eu estava aprendendo a ler a respiraĂ§Ă£o dele, os sinais do seu corpo. Bad news.
SĂ³ que nĂ£o ia ter beijo. Ora Diabos, eu sou uma menina triste. Eu ouço mĂºsicas tristes em dias chuvosos, eu moro com gente rĂºstica, eu passo tardes sendo poser lendo Byron em cemitĂ©rios, eu nĂ£o me lembro mais do rosto de algumas pessoas que amei, eu troquei amigos por um diĂ¡rio e choro em comĂ©dias porque elas me lembram que eu nĂ£o sei rir. Meninas como eu nĂ£o beijam. Meninas como eu jamais terĂ£o na boca outra lĂngua que nĂ£o seja a prĂ³pria. Meninas como eu nĂ£o se deixam apalpar. Meninas como eu nĂ£o sentem coisas. Ok, eu sinto coisas e continuo sendo eu apesar disso. Quem sabe se eu fizesse as outras coisas nĂ£o poderia continuar sendo EU tambĂ©m?
NĂ£o. NĂ£o vale a pena arriscar. Eu nĂ£o vou trair o “movimento das meninas tristes que nĂ£o tĂªm namorado”, nem o “movimento das meninas mal-amadas porque nĂ£o podem amar”. Eu nĂ£o vou cruzar a faixa. NĂ£o vou ultrapassar a linha amarela. NĂ£o vou dar uma reviravolta de nĂ£o-sei-quantos graus na minha vida. NĂ£o cabem reviravoltas na minha vida. SĂ³ as que me jogam no chĂ£o. E ele nĂ£o era o chĂ£o. Ele era o cĂ©u, o paraĂso, o horizonte com luzinhas de estrelas histĂ©ricas faiscando. Ele era tudo o que eu nĂ£o podia tocar, porque nĂ£o merecia.
Eu nĂ£o vou destruir com um beijo real a mĂ¡gica que Ă© fantasiar beijos improvĂ¡veis, noites a fio. Eu nĂ£o vou trocar as noites que ardi abraçada a um travesseiro fervendo de desejo por noites abraçada a um homem que me farĂ¡ virar outra pessoa. Eu nĂ£o sei se quero ser outra pessoa. NĂ£o sei se quero evoluir, feito um PokĂ©mon. Eu nĂ£o vou renegar meu lado perdedor. AtĂ© porque ele Ă© o Ăºnico que tenho.
- Eu queria que a gente fosse sĂ³ amigos…
E ele se ergueu devagar. Ia me dizer alguma coisa crucial, mas eu nunca saberei o que era pois feito a idiota que sou o interrompi com uma observaĂ§Ă£o estĂºpida:
- Seus olhos estĂ£o tristes.
E estavam. Era como se alguma das mĂºltiplas luzinhas que piscavam desde sempre dentro deles tivesse queimado, e em efeito cascata, todas as outras fossem se apagando. Isso. Havia um curto circuito dentro dos olhos dele. Sem incĂªndios farfalhantes, sĂ³ o apagar melancĂ³lico das luzes que iam morrendo. Perguntei o que era.
- Nada. Peito pesado, sei lĂ¡.
“Sinal de que tĂ¡ cheio”, eu respondi. Nossa mĂ£e. Naquela tarde eu havia pedido para ser imbecil e estava abusando da permissĂ£o.
- NĂ£o. Corações vazios Ă© que pesam.
- Haha, corações desafiam as leis da fĂsica? (eu avisei)
E entĂ£o ele riu. Mas eu podia jurar que nĂ£o estava feliz.
- Eles nĂ£o obedecem lei alguma.
Verdade. Mas eu nĂ£o sei. Eu sĂ³ obedeço Ă s minhas.
Por mais estĂºpidas que elas possam parecer.
0 Comments:
Post a Comment