Friday, October 24, 2003

o mercador do mal

O J. acabou de ligar. Está vendendo um gravador de DVD e perguntou se eu quero. No momento não me interessa, um dia quem sabe? Um dia eu baixarei filmes velozmente pela rede e aí sim, será legal poder armazená-los em disquinhos redondos espelhados. Por ora, não. Não tive medo de perder a oferta. Sempre aparecerá um outro aparelho roubado que ele queira me vender por 300, 400 reais - quando valerá o dobro, ou mesmo o triplo.

J. é meu técnico de confiança. Já penei na mão de gente com "diproma" que, durante o "concerto", fodeu mais ainda meus aparelhos. O J. é tosco, mas eficiente. Aprendeu o que sabe fuçando (o método mais confiável) ou assistindo aulas como aluno clandestino em universidades públicas. Atualmente ele tem até um certo prestígio. Já o vi duas ou três vezes no Jornal Nacional ou RJ TV prestando consultoria acerca de vírus, hacktivismo, clonagem de componentes/celulares. Faz serviços pra gente famosa, mas vive chorando miséria. Como ele é de casa, me cobra 40 reais para qualquer tipo de serviço, não importa quanto tempo leve (mas quase sempre ele resolve em questão de minutos) ou quantos programas instale. Pechincha.

Só que ele tem uma atraçãozinha pelo submundo. Vive enfiado na Vila Mimosa, fazendo fotos das moças para sites "relacionados". Já foi DJ de puteiro - baixava as músicas da web e fazia a trilha sonora da transa alheia. De vez em quando ele acolhe alguma moça recém chegada do interior em seu cafofo, dá a ela amor, carinho e um ombro onde chorar. Mas assim que ela arruma um cafetão mais bonito (sim, porque ele é feio) ele ganha um pé no rabo. Triste sina. Fora o interesse quase antropológico pelas putas, ele também se liga numa ilegalidade. Vendia celular roubado, clonado, bem como equipamentos de informática surrupiados. Outro dia ele estava aqui removendo uma virose do meu PC, quando o celular toca. O som estava alto, e eu "pesquei" alguns trechos do que o seu interlocutor dizia. Algo do tipo:

anônimo: e aí, arrumou meu bagulho?
j.: ainda não, ainda não... vou pegar amanhã, só.
anônimo: porra, meu amigo... tô precisando disso pra ontem...
j.: eu sei, eu sei... já tá certo, amanhã mesmo.
anônimo: vê isso aí pra mim, tô dependendo disso pra fazer uns esquemas... agita aí pra mim...
j.: valeu, valeu... tchau.

E desligou. Eu: "você tá vendendo droga???", e ele: "não, é o (INSIRA O NOME DE UMA FIGURA POPULAR DO JORNALISMO DA REDE GLOBO) que tá me cobrando um laptop... Ele já pagou, mas o cara que fornece só ficou de trazer amanhã".

eu: roubado?
j.: claro, pô... hahahaha.
eu: peraí, esse cara NÃO PRECISA comprar roubo, ele tem grana!
j.: se você pudesse pagar mil reais num laptop que vale 10 mil, ia fazer questão de nota fiscal?
eu: ...

Detalhe: o "fornecedor" estava cobrando 500 reais pelo computador. O resto era a "comissãozinha" do J.

Putz. Preciso entrar pro mundo do crime.

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