Here we go again. Seguindo na tradição de fazer a retrospectiva do mês BEM depois que ele acaba.
Mas a realidade é que o atraso, dessa vez pelo menos, não se deve apenas à soma da minha indolência natural com a falta de tempo de quem precisa cuidar sozinha de uma casa grande e ainda inserir algumas horas diárias de home office pra fazer uma grana extra. Eu quase decidi juntar fevereiro com março porque foram dois meses tão… nada que não acreditei que tivessem rendido conteúdo para dois posts separados. Fiz pouco, e o pouco que fiz não fotografei. Resisti à preguiça para não atrapalhar o meu flow, mas esses foram dias difíceis onde a delicada situação familiar no Brasil veio a 120km/h em minha direção e me derrubou na pista.
Eu sempre soube que a coisa mais preciosa que eu tinha na vida era a minha saúde mental. Fora raros episódios de ansiedade eu era uma daquelas pessoas irritantes que se declaram felizes em enquetes. Só que vim de uma família e um círculo social onde sou um ovo de codorna num ninho de urubus. E essas diferenças, que eu podia ignorar na juventude limitando o contato, se tornaram um grande problema agora que preciso da ajuda alheia para ter notícias da minha mãe – que aos 85 anos começa a perder autonomia. Já eu perdi o costume de ser tratada com rudeza. Não tem sido agradável lidar com quem não sabe se comunicar sem agredir e ofender, e que se convenceu de que quem vive no exterior é obviamente rico e pode pagar por soluções milionárias. Eu adoraria que eles estivessem certos, porque a real finalidade do dinheiro não é gastar com tralha de grife e sim neutralizar problemas e comprar paz. E se pudesse, eu pagaria caro para ter a minha de volta assegurando que minha mãe está bem cuidada.
E o timing das bombas que explodem em chats do Whatsapp é impecável. Até uma simples encomenda que recebo aqui traz junto uma notícia ruim ou agressão gratuita vinda de lá, neutralizando qualquer pequena alegria que eu possa ter. É como um encosto debochado: “JURA que você pensou que fosse ter um dia bom lendo um livro?” O resultado foi o agravamento de uma condição de saúde e também a minha primeira caixinha de clonazepam para tentar regularizar meu sono. A caixa tinha NOVE comprimidos, porque eu vivo num país que tem pavor de medicar pessoas.
Eu não vou entrar em detalhes sobre a situação em si e nem discorrer sobre as medidas desesperadoras que tomei no caminho de encontrar uma solução, ainda que temporária. Mas tenho esperança de que em abril eu conseguirei ao menos respirar e dormir. Na atual conjuntura já é muito.
Logo no começo de Fevereiro (antes do desgraçamento familiar) visitamos Tunbridge Wells, uma pequena cidade turística no condado de Kent. Durante o período de Restauração da monarquia inglesa Tunbridge era considerada uma “cidade spa” por conta de suas fontes de água ferrosa, à época consideradas medicinais. Depois que essa moda passou e banho de mar virou a nova tendência os “wells” de Tunbridge perderam um tanto da relevância, mas a herança arquitetônica do seu apogeu foi preservada e atrai turistas até hoje.
Aqui registrada a primeira tarte tatin da minha vida no “menu alpino” do Côte. Review: comeria facilmente de novo, mas nada revolucionário. A tartiflette também estava muito boa.
Esse calçadão elevado com belas varandas sobre colunas define a área conhecida como Pantiles, e no fim dele está a fonte que deu nome à cidade. Uma variedade de cafés, restaurantes, bares, galerias de arte e boutiques de rico serve de entretenimento, e aos sábados há uma feirinha onde se pode comprar frutas, verduras, queijos, pães e afins direto dos produtores locais. Durante o verão há apresentações de bandas e peças de teatro em um palco coberto no calçadão.
Palco esse que fica exatamente em frente ao hotel em que nos hospedamos quando chegamos à Inglaterra vindos de Jersey para a nossa simples lua de mel – pois é, a rica não foi pras Maldivas… Mas como presente de casamento estava acontecendo uma apresentação de A Midsummer Night’s Dream bem embaixo da nossa janela; aqui temos alguns registros dessa noite clara de verão.
Mas não foi um dia sem percalços. Chegamos em Londres (eu, recém marido e dois amigos que vieram para Jersey participar do casório) cerca de duas horas depois do atentado terrorista de 7 de Julho. Demoraram a nos deixar sair da aeronave e sem nenhuma informação, e no banheiro do aeroporto uma louca entrou gritando que ninguém devia sair dali porque alguém tinha detonado uma bomba no centro de Londres e havia “centenas de corpos e sangue espalhados pelas ruas”. Não foi bem assim, mas foram mais de 50 vítimas fatais e o transporte público estava paralisado. Um dia terrível que ficou dolorosamente marcado na memória desta cidade. Nunca vou esquecer os letreiros na estrada alertando os motoristas para evitar Londres enquanto o rádio trazia notícias cada vez mais sombrias. Usamos o carro que alugamos para a viagem para deixar uma pessoa em casa e levar a outra para pernoitar com amigos em Kent – já que ela morava no centro, que estava inacessível. E foi assim que viemos parar nesse hotel:
Tomando um refri com Wandinha no shopping:
E foi no shopping Westfield que abriram uma lojinha da Kenji – as doidas da papelaria piram. É tudo tão bonitinho e barato que é impossível resistir. Além de adesivos, canetas, caderninhos e post its eles têm artigos para a casa, camisetas, mochilas, acessórios e guloseimas. Essas balinhas japonesas de fruta (acho que também são vendidas na Daiso) têm mais gosto de fruta do que a própria fruta. Recomendo fortemente a de uva moscatel; o risco é você nunca mais querer comer uma uva…
Também visitei Chesham, no condado de Buckinghamshire – pelo único motivo de que existe uma estação de metrô ali e POR QUE NÃO ir, né. Acabei achando uma W Brazil english version e fiquei o resto do dia com a voz do Jorge Ben Jor na minha cabeça cantando “alô alô dábliu brasil“
Descobri que é um bom lugar para quem coleciona Meu Querido Pônei ou hominho de plástico encontrar raridades pela barganha de 2 libras cada. Eu quase levei o pônei loiro azul royal, mas tomei vergonha na cara e deixei pra quem realmente entende o valor e aprecia (me arrependi assim que entrei no trem de volta, but we move).
Também achei uma livraria de usados que vendia café e bolo. Não levei nada mas destaco essa coleção da Enid Blyton, a edição antiga de Robinson Crusoe, a biografia do Bowie e esse merchandise da turnê Blond Ambition da Madonna – muito bem conservado para os seus… 34 anos. Essa tour é de 1990. Sim, você está velho.
Kes é um dos filmes mais tristes da filmografia do Ken Loach, quiçá do mundo.
Também estivemos em Great Missenden, para visitar o museu do Roald Dahl. Ok, mentira, estávamos apenas passando e eu precisava de um banheiro, então paramos para um café e demos um rolê pela village. Mas como a única coisa que tem ali, além do café, é um museu do Roald Dahl (autor de Charlie e a Fábrica de Chocolate e Matilda, entre muitos outros) eu pensei em começar o post com uma lorota a fim de tirar onda de culta. A real é que eu nem gosto muito do Roald Dahl, mas olha que graça esse posto de gasolina vintage:
Teve também esse restaurante instagramável. Agora que já fiz a foto eu felizmente não preciso mais voltar lá porque a comida é péssima. Mas bonito as glicínias falsas coloridas no teto.
Rolês aleatórios em London Town (e o maior croissante da cidade):
E agora alguns dos “recebidinhos pagos” de fevereiro. Eu ganhei uma pulseira da Pandora mas nunca gostei dos charms dessa marca, e buscando uma alternativa encontrei a Gnoce – uma e-shop chinesa que faz os penduricalhos mais bonitinhos do univerno. Assim como os da Pandora eles também são de prata maciça, mas muito menos fubangos. Lhes apresento o gatinho sphinx, a caveira romântica com uma rosa na boca, a mãozinha esquelética e o crânio da Rainha Elisabeth (cuja coroa enrosca nos pêlos das minhas blusas).
Entre os perfumes resolvi experimentar o viral da Sol de Janeiro (nº 62), que de fato tem um cheirinho delicioso de bala mas não sei se compraria de novo porque a fixação é fraca. Em termos de custo/benefício fico com o Pink Pepper da coleção nova da Marks & Spencer; em mim dura várias horas e o vidro pequeno custa a merreca de 6 charlinhos.
Já esse aqui eu reponho sempre porque é um dos meus preferidos. O preço dos perfumes e cosméticos de modo geral subiu bastante nos últimos anos, mas essa marca é acessível e produz essências de alta qualidade. Esse vidro de 100ml de eau de toilette tem excelente fixação e rastro, além de ser lindo. Borrifa na roupa e vai durar até lavar.
Cansei de experimentar com skincare e no momento estou apenas com esse hidratante e o serum de vitamina C da Ordinary, além do demaquilante Cerave e um filtro solar da Boots. O filtro continua sendo a parte mais importante – todos os dias, mesmo se for ficar em casa, mesmo se nem abrir a porta da frente, mesmo se estiver querendo estar morta. Se você ainda é jovem e acha que não precisa, por favor não se iluda; use filtro solar (corretamente) todos os dias. Daqui a 20 anos você vai agradecer muito ter tido esse trabalhinho extra.
Fevereiro ainda é muito cedo para plantar coisas, mas não resisti a essas bandejas de primroses na B&Q por 50 centavos cada. Foram plantadas no canteiro da frente e algumas estão em flor até agora.
E foi isso o que deu pra salvar do segundo mês do ano. Estamos agora no comecinho de abril, o horário de verão já em vigência e os dias mais floridos e longos. E eu só espero que as cores que desabrocham nas calçadas me façam voltar a ter prazer em caminhar por elas e a luz que permanece cada dia mais tempo na minha janela me ajude a enxergar a que está no fim desse túnel. Vai dar certo. ♡♡♡
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