Wednesday, February 21, 2024

January blues.

 

Eu sei que janeiro acabou faz tempo. Na verdade até fevereiro já está caindo pelas tabelas, mas a retrospectiva mensal só conseguiu sair agora; talvez porque nada muito digno de nota tenha acontecido por essas bandas. Depois de um fim de ano conturbado eu consegui resolver alguns probleminhas (ainda que temporariamente), então resolvi que ia hibernar o cérebro, curtir minha casa e voltar a cuidar de alguns hobbies que tinham sido abandonados por falta de foco.

Janeiro é um mês meio que “demonizado” nesse país. Uma coletânea de tudo que é “ruim”: o bode pós festas de fim de ano, falta de dinheiro depois dos gastos natalinos, o frio e a escuridão do inverno, a distância da primavera, a dureza de voltar para a dieta ou a modinha de fazer o “dry january” (passar o mês sem beber para descansar o fígado). Felizmente nada disso pra mim é problema. Não passo dezembro socializando, não faço gastos natalinos, curto tempo frio, gosto da primavera mas sem pressa, uma hora ela chega, não faço dietas e meu fígado passa bem, obrigada. E o mais importante: janeiro é também o mês do meu aniversário. Ou seja, pelo menos aqui a festa continua.

Celebrei a data num restaurante hypado da cidade. Apesar de eu gostar do Carlotta preciso dizer que se tem uma coisa que passou da hora de acabar aqui em Londres é a instituição “restaurant group”. Não me refiro a restaurantes de rede (aqueles que têm várias filiais idênticas com o mesmo menu – como o Outback, por exemplo) e sim de grupos de restaurantes mantidos pelos mesmos donos e que mesmo tendo menus, nomes e decorações diferentes você sempre fica com a impressão de que todos são iguais. O foco desses lugares é no visual, não na comida – que nunca é muito ruim, mas nunca é muito boa. Tudo é milimetricamente pensado para ser instagramável, a decoração costuma ser exagerada e temática, os endereços sofisticados, os preços não muito amigáveis, os frequentadores interessados em ver e serem vistos e, quanto mais popular nas redes sociais, mais gente tentando fazer reserva e mais difícil é conseguir uma mesa. Tudo isso colabora para criar uma aura de exclusividade em torno do estabelecimento, os pratos mais vistosos viram trend nas redes sociais e pronto: temos um “lugar da moda” onde você precisa ir pelo menos uma vez, postar uma foto e dizer que esteve lá. Minha opinião? Cafona.

O Carlotta faz parte do Big Mamma Group. Eles são menos formais que certos grupos e graças a isso não preciso dividir espaço com milionários berrando no celular e suas sugar babies fingindo admiração porém evitando que eles apareçam nas fotos que elas vão postar no insta. Admito sem o me-nor problema que só venho aqui por causa desse bolo, chamado de wedding cake. Não faço idéia se isso aí embaixo realmente se parece com um autêntico bolo de casamento italiano, mas quem liga? Camadas generosas de génoise (cuja massa delicada leva apenas três ingredientes: ovos, farinha e açúcar) recheadas de creme de tangerina, cobertas de coulis de limão e pedacinhos crocantes de suspiro. É de suspirar sim.

Depois de pagar a conta você sobe a escada enquanto aprecia na parede os retratos (reais) de casamentos italianos dos anos 50/60 e adentra um imenso lavabo com decór industrial, paredes espelhadas, spots de luz vermelha em meio à escuridão e música no último volume. No fim você não sabe se vai fazer xixi ou curtir uma rave; na dúvida faça os dois.

Uma atividade que ocupou algumas tardes de domingo em janeiro: pub + rolê. Primeiro passo é escolher um pub da minha lista de favoritos; os critérios envolvem não ser muito longe de casa, ter cadeiras ou poltronas confortáveis, dispôr de cerveja ale fresca, ausência de qualquer tipo de telão exibindo programas esportivos, ser dog friendly (não porque eu tenha cachorros, mas porque quem não gosta de beber cerveja na companhia de doguinhos?) e estar cercado de verde. Recentemente descobri o The Forest Gate e foi muito gostoso explorar as trilhas da floresta de Epping numa tarde ensolarada e fria de inverno. Levei minha little sidekick (a bonequinha retrô é uma Molinta da Finding Unicorn) para abrilhantar as fotos, que acabaram não sendo muitas.

Já que falamos de restaurantes de rede, eis que chegamos ao preferido do Mr. Respectivo: Flat Iron. Já falei dele várias vezes aqui, é um queridinho local, bastante popular e sempre lotado mas você ainda consegue uma mesa sem reserva. Os preços são acessíveis, o menu super simples e enxuto (a canequinha de pipoca grátis como entrada é um detalhe simpático) e a qualidade da carne sempre impecável. Eu nem sou a maior fã da iguaria mas amigos, digo sem medo de errar que este é um dos melhores bifinhos da cidade.

A batata, cortada fina e frita na gordura do bife, é uma das melhores que já provei. Esse creme de espinafre também é imperdível. O macarroni cheese eu não lembro se é novidade no menu, resolvi experimentar dessa vez e meio que me arrependi – gostoso, mas nada especial e eu preferia ter pedido (como sempre faço) outra porção de batata frita. :)

Ah, outra gracinha clássica do restaurante é trazer junto com a conta um mini cutelo que o cliente pode trocar na saída por um sorvete de casquinha de salted caramel coberto por uma farofinha de chocolate ralada na hora. Simple joys.

Buchinho cheio, fomos pra Gudrun Sjoden trocar um gift card que ganhei de presente de aniversário por algumas roupinhas para o verão. Cheguei no fim da liquidação e alguns tamanhos estavam esgotados, mas consegui aproveitar vários descontos e até me surpreender com algumas escolhas que fiz. Confesso que gosto da IDÉIA das roupas dessa loja mas não achava que combinavam comigo – afinal de contas não é à toa que o apelido do meu guarda roupas é 50 Tons de Cinza. Mas bastou entrar nesse vestido AMARELO (uma cor que eu jamais consideraria e que não existe dentro do meu armário) para ficar impressionada com a diferença que fez na minha compleição; me senti iluminada. Espero ter coragem de usá-lo quando o verão chegar. O segundo look me passou uma forte energia Velma do Scooby Doo, but we move.

Fui com uma amiga no cemitério de Kensal Rise ajudá-la a limpar a sepultura da sogra. Nesse dia compramos biscoito Passatempo numa lojinha brasileira e fiquei surpresa com o quanto achei RUIM. Postei no instagram e as dms foram quase unânimes em dizer que não foi o meu paladar que mudou e sim a fórmula que foi alterada a fim de baratear o produto – para quem produz, não pra quem compra. Detesto desperdiçar comida, mas foi inevitável enlixar.

Vimos este moço dando um trato nessa carruagem, uma coisa bem disney princess; mas perceba que a função daquele compartimento de vidro é transportar um caixão. Se você não conseguiu ter uma vida de cinderela pode pelo menos se despedir dela como uma.

Mas esse memorial aqui foi o que mais nos chamou atenção. À primeira vista pelo tamanho:

Aparentemente é o maior mausoléu já construído no Reino Unido. Ali descansa Medi Oliver Mehra, um menino de 11 anos que sofreu um acidente fatal ao cair de um cavalo em 2014. Em memória do único filho seus pais mandaram erguer esse impressionante memorial. A família comprou o espaço em perpetuidade, o que certamente não saiu barato pois Kensal Rise é um cemitério caro.

Tudo o que você vê nas imagens foi feito à mão no Irã e transportado para a Inglaterra: colunas gregas, jardins, bancos… Foram usadas 350 toneladas de granito, 150 de aço e 200 de concreto. E no meio do memorial uma estátua de Medi, sorridente com sua bola de futebol como se esperasse um amigo para brincar.

As três fotos acima são da internet; preferi usá-las porque no dia da nossa visita não estava tão florido. Não achei o crédito original, mas acredito terem sido usadas no site da fundação que leva o nome do menino.

E maaaais uma franquia de bubble tea. É meio doido pensar em como esse negócio surgiu do nada e se popularizou TANTO de uns anos pra cá. Tempos atrás era a febre do frozen yoghurt mas agora a cada esquina você tropeça numa loja de bubble tea – ou “bobba” como a garotada do Tumblr chamava lá pelos idos de 2015. A Mowchi abriu num shopping aqui perto e apesar da pouca variedade de sabores achei bem gostoso. Na parte de comida eles têm bao buns e batatas fritas com coberturas variadas.

Alguns registros de rolês urbanos:

Olha outro Flat Iron aí; esse fica em Kensington. Curto muito essa vibe urban jungle que eles adotaram para o decor, que continuem assim.

Visita rápida a trabalho no “gueto brasileiro” (Willesden) onde resolvi arriscar essa coxinha.
Minha opinião? Devia ter pedido um pastel…

E mais alguns rolês pré-primaveris, incluindo os primeiros narcisos (as flores amarelas) que vi esse ano:

Sempre que faço caminhadas pela vizinhança nessa época do ano eu sinto cheiro de lareira; é um dos meus cheiros preferidos e me leva direto para os invernos da minha infância, queimando lenha na rua com as outras crianças pra fazer fogueira de festa junina e assar linguiças espetadas num garfo. Fico extasiada, fungando o ar num surto nostálgico. A primeira e última vez que tive lareira em casa foi em Jersey; gostaria muito de voltar a ter, mas segundo consta é proibido no meu bairro – áreas urbanas já são tão poluídas que não precisam de mais fumaça. Só que se eu sinto cheiro é porque tem, né? Ou os vizinhos estão burlando a lei ou aprenderam a usar algum tipo de combustível menos poluente. Vou me informar melhor e quem sabe no próximo natal eu já tenha novamente a minha fogueirinha doméstica particular?

(a bonequinha mal encarada é uma Vita da Pop Mart)

Lembro de estar sentada na varanda do hotel em Gibraltar com um drink na mão no último dia do ano como se fosse ontem; e no entanto já é quase primavera. 2024 começou há dois minutos e já está 2 of 12? A vida passa, o tempo urge, os meus planos de fazer pequenas reformas na casa durante o inverno foram sendo deixados de lado e agora que eu “acordei” da hibernação mental e física que usei pra tentar lidar com o stress estou correndo pra conseguir terminar alguns pelo menos antes do fim de março. Vamos lá que daqui a duas piscadas o ano acaba de novo e se eu não quiser deixar meu livro quase em branco como em 2023 I need to get a move on. BORA.

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