Wednesday, January 13, 2021

Gray, dull, wet, cozy, lovely.

Descobri que muita gente aqui não gosta de fazer aniversário no inverno. Mas eu, equatorial summer baby suando por décadas no décimo quarto dia do ano, estou agora no meu elemento. Janeiro é um mês quase que universalmente odiado aqui. E agora é um dos meus favoritos. Café, pick and mix da Wilko, velas perfumadas, celular novo, livros bonitos, espelhos sujos, manicure vermelha. Pode chegar, idade nova. E traga bolo.


Comprei esse Pick'n'Mix na véspera do meu aniversário, uma dose necessária de inocência açucarada para celebrar meu envelhecimento em pleno lockdown. Eu nem lembro o que fiz no aniversário anterior (memória excelente para coisas que aconteceram há três décadas; já ano passado é um borrão), mas certamente deve ter sido mais animado que sentar na sala de jantar para acender velinhas num bolo de supermercado. Pensei em comprar balões metálicos, fazer um mural e juntar 3 pessoas num birthday zoom, mas quer saber? This ain't really me. Me dei essas velinhas coloridas (another touch of whimsy), me dei os parabéns por ter sobrevivido 2020 e me dei por satisfeita. 


Meu celular novo chegou esse mês e com muito pesar aposentei essa capinha magnífica cheia de glitter movediço. Ela é super pesada e não vou sentir falta do tijolo em que ela transformava meu finíssimo e levíssimo 6 plus - mas tão bonito o rosto... O telefone novo é um 11 Pro e já estou insatisfeita com o tamanho; me acostumei com tela grande. A câmera é boa no escuro; fora isso não estou vendo nenhuma diferença fenomenal, mas como não posso reclamar do preço que encontrei fico quieta. Espero que dure tanto quanto o anterior, que ainda funciona.


Lendo uma discussão sobre “filmes que te deram expectativas nada realistas sobre como seria a sua vida adulta” e percebendo que eu nunca tive expectativas sobre como seria a minha vida adulta. No máximo pensei em filmes como St Elmo’s Fire e Reality Bites, onde um monte de recém adultos se dá conta de que um diploma não é a chave da felicidade e que relações humanas são complicadas e nem sempre têm final feliz. Tudo o que EU queria era um emprego sem contato com o público e que me pagasse o bastante pra mobiliar um quarto-e-sala nas Casas Bahia. Nasci pra ser medíocre.


Por outro lado consigo pensar em momentos da minha vida adulta que a Lolla adolescente teria achado super cool e que jamais aconteceriam de verdade. Ver neve. Cruzar a Oxford Street em Londres dentro de um black cab. Tomar café da manhã num diner em NY. Marcar um “almoço de negócios” na agenda. Sair às quatro da madrugada descalça de um bar na Lapa levando o sapato na mão. Ter um trench coat! Encomendar cartões de visita com meu nome e telefone numa gráfica a fim de distribuir para clientes. Tomar bellinis na manhã de natal. Tomar chá das cinco no Ritz. Tomar uma taça de vinho Valpolicella em... Valpolicella. Marcar e pegar um vôo internacional sozinha. Voar business class (não paguei, hahaha; foi um upgrade gratuito). Visitar um Souk em Dubai. Entrar nas Galeries Lafayette em Paris. Assinar um artigo num portal. Marcar um café com amigos num bar, pagar a conta e dar gorjeta. Estar de casaquinho em pleno janeiro, tomando café e browseando o instagram no tablet, quando na adolescência muitas vezes me perguntei se um dia teria condições de ter uma casa, um emprego e um mínimo de estabilidade.


No fim das contas talvez seja melhor nascer pra mediocridade e se surpreender positivamente do que o contrário.

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