Thursday, August 06, 2015

[6x6] Favorite places

E o tema de hoje é “Lugares Favoritos” e eu fiquei meio perdida porque o que não me falta aqui é lugar favorito. E eu me dividi entre “que delícia, vou achar seis lugares em questão de segundos!” e então procedi a passar SEMANAS tentando escolher apenas seis lugares de uma lista de quinhentos. NOTHING IS EASY, MY FRIENDS. Acabei fazendo uma seleção bastante aleatória mas acho que alguns desses lugares entrariam em qualquer lista que eu fizesse, mesmo que existam lugares mais bonitos, mais chamativos, mais importantes, mais “com a cara da Inglaterra” ou até mesmo mais com a minha cara. Essa lista precisaria ser bem maior (e admito, poderia ter sido bem melhor também), mas nem por isso deixa de ser representativa.

1. Sunbury-on-Thames



Eu ia deixar Sunbury de fora da lista porque não consegui uma boa foto, mas foi impossível. Sunbury-on-Thames, ou mais precisamente Lower Sunbury, foi o primeiro lugar onde eu pisei na Inglaterra fora do aeroporto - uma village bonitinha, bem cuidada porém sonolenta às marges do rio mais famoso da Inglaterra. Estávamos indo de Heathrow, onde Respectivo tinha ido me buscar, para outro aeroporto a fim de pegar o vôo para Jersey (a ilha do Canal da Mancha onde ele morava na época e que foi nosso lar por vários anos). Ele quis me apresentar à famosa “cerveja inglesa” (amarga, choca e quente) e eu, sabendo que ia odiar, pedi um copo pequeno. O copo levou menos de um minuto até esvaziar e o próximo copo veio em forma de pint inteira; foi literalmente amor ao primeiro gole. ♥ E amor àquele primeiro contato com uma cultura que já significava tanto pra mim e estava prestes a se tornar ainda mais. Sentada num banco daquela pracinha bucólica, de frente para o trecho mais tranquilo do rio Tâmisa e cercada de patinhos ansiosos por alguma migalha que eu porventura tivesse para dar eu me senti (pela primeira vez em muito tempo) verdadeiramente em casa.

2. Hampstead



Meu chameguinho nessa cidade. Ô lugar bonito e gostoso; se fosse um homem eu pedia em casamento, mas infelizmente é somente um bairro caro e meu amor não paga o aluguel. :D Eu sou louca por verde, flores e arquitetura, e Hampstead marca os três Xs nos parênteses. Essa área já foi considerada o lar da “esquerda caviar” londrina, o bairro dos escritores, poetas, compositores, artistas e intelectuais. Não tem o burburinho de certos bairros da área central, mas o que “perde” em barulho, sujeira e criminalidade Hampstead ganha em tranquilidade, sofisticação sutil e beleza. É lá que fica Hampstead Heath, um dos parques mais delícia de Londres (320 hectares de amor), com florestinhas (recentes e ancestrais), lagos onde as pessoas podem nadar (incluindo o Ladies’ Pond, que como o nome indica é exclusivo para mulheres), vales e montes de onde se tem uma vista ampla da cidade. Dentro do parque está Kenwood House, uma mansão do século 17 aberta a visitação pública (olha só a biblioteca…) e uma orangerie que serve o melhor bolo Victoria Sponge do universo conhecido. ♥ Hampstead tem também uma variedade de cafés, restaurantes, o Vale of Health (uma mini vizinhança com cara de Londres que a gente só vê em filmes dos anos 50), a casa do Freud e do poeta Keats e se não me engano o Boy George ainda mora lá, haha.

3. The City



Muita gente não vai entender essa escolha, porque para muita gente nada tem MENOS a cara de Londres do que esse monte de arranha céus futurísticos com formatos estranhos e apelidos engraçados (“o pickles”, “o walkie talkie”, “o ralador de queijo”, “o caco de vidro”, “o caracol”, etc). No entanto eu acho absolutamente fascinante esse pedaço de modernidade plantado no meio de um lugar que transborda tradição; a poucos metros dali fica a torre onde arrancaram a cabeça da Ana Bolena, e tem um ângulo de visão onde você consegue colocar o The Shard (o caco de vidro, prédio mais alto da Europa) “dentro” da Tower of London onde ficam as jóias da coroa britânica guardadas por senhorzinhos usando uma fardinha vermelha super vintage e que mantêm aquela vaga vitalícia cuidando entre outras coisas da segurança dos famosos corvos da torre - reza a lenda que se um dia todos eles abandonarem a torre a monarquia cai. MÊDA. Enfim, voltando ao mundo moderno, eu acho extremamente relaxante sair da estação em London Bridge, pegar um lanchinho no Borough Market, caminhar pelo south bank até chegar na área da Tower Bridge e simplesmente admirar a arquitetura angulosa e ríspida dos prédios de escritórios se espichando em direção à linha do horizonte feito tentáculos robóticos. This is also London. :)

4. Coggeshall



Se você achava que Essex era sinônimo de clones da família Kardashian com bronzeado artificial perene, contouring equivocado, cílios postiços, calças apertadas, carros cafonas e muito gel no cabelo, bem, pense de novo. Essex também é a localização geográfica de vilas charmosas como essa - a foto acima foi feita no meio da floração de wisterias, e você realmente não vai querer estar em outro lugar do planeta terra nesse período. Enquanto admira os cachos cor de lilás se despencando dos galhos aprecie um chá das cinco servido à maneira tradicional: com folhas soltas dentro do bule, um coador de prata para servir o líquido, leite frio para ser despejado sobre o chá e água quente extra para fazer o seu Earl Grey/Darjeeling/Afternoon Tea render mais. Para acompanhar, “finger sandwiches” de pepino (tradicionalíssimo) e atum, scones (pãezinhos com cara de bolinhos) servidos quentes com creme de leite batido + geléia de morango e pequenas fatias de bolos variados. A joy. ♥ Coggeshall também tem domicílios de famílias tradicionais abertas a visitação pública (Paycocke’s House é a preferida) e muitas lojinhas de antiguidades e pubs de interior - sim, os que têm a melhor cerveja e a melhor comida; nada de “pint de Stella” e “hamburguer gourmet”.

5. The Strand



Meldels, que lugar bonito e que fica de fora de uns 99% dos roteiros turísticos dessa cidade. Fica no meio de fucking Westminster e ninguém vai, ninguém sabe onde é, ninguém passa nem perto. “Ah, tem nada pra fazer ali” MEU AMIGO OLHE ESTA ARQUITETURA (ok, eu poderia dizer o mesmo de outros 800 lugares em Londres mas eu só podia meter seis nessa lista néam? Tirei no palitinho, deu Strand, Strand it is). E o que Strand tem? Tem a Royal Courts of Justice que por si só já vale a passagem de ônibus, pô. Tem um café legalzinho com staff simpático bem em frente dela, e se você chegar cedo (não precisa madrugar…) pode pegar um lugar de frente pro janelão que dá pra rua e comer o seu croissant matinal olhando essa maravilha, pensando em todas as tretas que já rolaram por trás daqueles portões e arcos neogóticos e dando graças a Deus, ops, ao George Edmund Street - o cara que projetou a belezinha mas acabou morrendo antes que as obras fossem concluídas, exausto com a construção. Mas concluídas elas foram, e enquanto eu mastigo o meu croissant e faço o meu people watching eu penso que o Georginho não morreu em vão e teve a melhor “despedida da firma” que alguém poderia. Logo ali do lado tem também a loja da Twinings (já falamos sobre o assunto) e não muito longe está o Postman’s park (idem).

6. Queensway.



Sei explicar? Não, acho que não sei explicar. Queensway é praticamente só uma rua, e poderia ser ali, ou poderia ser Chinatown, ou poderia ser o Soho, ou poderia ser Seven Dials, ou poderia ser outro; todos esses lugares centrais e com um buzz único (mas com um pouco mais de alma e personalidade do que Covent Garden, por exemplo), onde o centrão parece uma comunidade, ou melhor, pequenas comunidades de pessoas com interesses em comum e incomuns, tribos urbanas, guetos de imigrantes, cheiros de restaurantes étnicos do mundo todo, turistas, transeuntes, lojinhas de cacarecos com a union flag e pequenas rainhas elisabetes de plástico que dançam animadas pela energia do painelzinho solar, onde a cidade é menos tons pastel e trilha sonora dos Beatles e mais latas de lixo com raposas dentro fuçando os dejetos da noite anterior e bares onde turcos fumam narguilé em sofás de veludo na calçada. Queensway é praticamente só uma rua (mesmo sendo uma área inteira em Bayswater), mas é uma rua que tem duas estações de metrô, tem floristas e prostitutas, tem mercadinhos brasileiros e chineses e restaurantes do mundo inteiro, bares que vendem coxinha com catupiry fake e linguiças polonesas e ervas e especiarias para as putas tailandesas com saudades de casa, que tem o Hyde Park de um lado e do outro um shopping que foi a primeira loja de departamentos de Londres (aberta em 1867), lojas de bugigangas que te atendem com sotaque árabe e eu entro e saio de lojas segurando o onigiri japonês numa mão e a garrafinha de guaraná Antarctica na outra e depois me sento num café do Whiteleys pra ler o London Evening Standard que peguei de graça na estação enquanto tomo um cappuccino e me finjo de lady. Aqui eu posso ser o que eu quiser.

Outros lugares queridos: Taís (Irlanda) - Paula (Holanda) - Alê (Ucrânia) - Loma (Coreia do Sul) - Paula (Austrália)

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