Friday, January 02, 2015

A lot can happen in a year.

Passei o “reveião” como prefiro: bebendo champagne e enchendo o rabo de comida chinesa. Achamos nos 45 minutos do segundo tempo uma mesa disponível no restaurante, quando eu já havia desistido e me preparava para a festa do pijama. A noite não começou 100% depois que amarguei (mais) algumas esnobadas, mas que por sorte foram as últimas do ano. Risos. G passou pra desejar feliz Ano Novo (adoro a pessoa chamar um desvio monumental de caminho de “passada”, mas eu estava mesmo precisando me sentir importante, então não reclamo). Me ajudou com a maquiagem e foi embora pra festinha dele, para a qual tínhamos convites mas eu não quis terminar o ano sendo um peixe fora d’água - ou, mais precisamente, o peixinho dourado de pet shop num aquário de luxo, cheio de espécies exóticas de peixe beta. Poderia ter sido melhor se eu tivesse ido pras highlands; mas dadas as circunstâncias também poderia ter sido MUITO pior - mesmo que eu tivesse ido.

Apesar de tudo o último dia de 2014 foi, de modo geral e do meu jeito, lindo. Acordei cedo e o mundo estava BRANCO; não de neve, mas de frost, que eu acho quase tão bonito quanto. Fui sozinha pro shopping aqui perto onde tomei o café da manhã perfeito (bolo victoria sponge + chai latte) e voltei pra casa pra um banho rápido e me mandar pro centro a fim de entregar uns documentos e respirar um pouco de ar de metrópole. No Oriental Market em Bayswater comi onigiri de salmão, pork bun e bebi cerveja na calçada. Lá também comprei duas sacolas de porcarias deliciosas - e felizmente low carb, ou seja, meu janeiro está salvo. :) Atravessei a rua e fui pra Casa Brasil comprar uma caixa de guaraná zero e uma BACIA de Paçoquita. ♥

Eu realmente gosto daquela área, colada no aristocrático Hyde Park mas abundante de “glamour paraguaio”: a bagunça de restaurantes étnicos, lojinhas de tralhas para turistas, árabes fumando shisha na calçada e turcos gritando entre si na rua, estudantes coreanas lindas feito bonecas de porcelana circulando com seus copos de bubble tea, brasileiros de jaqueta jeans e tênis Nike discutindo o preço do aluguel na mesa do self service, a charmosa cúpula do Whiteleys (primeira loja de departamentos de Londres, onde a Eliza Doolittle vai tomar seu banho de loja em My Fair Lady) no fim do quarteirão e as delicatessens do mundo inteiro para servir às prostitutas russas e tailandesas com saudades da comidinha de casa e que populam os apartamentos ao lado da estação do metrô para atender executivos. Era pra ser um lugar deprimente, mas que nunca falha em me fazer sentir viva e parte de um ecossistema maior que a soma dos meus mimimis.

Passei pela Westminster Bridge, já lotada de gente àquela hora. Esse ano o prefeito resolveu cobrar ingresso da multidão porque não descolou patrocínio; mas amigo, dá pra ver os fogos de diversos pontos da cidade que você não pode controlar, né. Não seja besta. :) Parei e olhei pro Big Ben, que está ali badalando os Westminsters Quarters há 150 anos e pondo os meus pequenos e transitórios problemas em perspectiva; agradeci por ter sobrevivido a esse ano bunda, onde tanta coisa deu errado e tanta gente cagou na minha cabeça de graça. Fiquei ali um tempo até as multidões começarem a me irritar e agradeci à cidade por ter sido a minha companhia em 2014, por ter me recebido daquele jeitão meio bruto de metrópole mas de braços abertos nonetheless, e me presenteado com história, energia, comidas, diversão, cultura, arte e beleza desde 2011.

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Esse momento emo como sempre me lembrou de Under the Bridge do Red Hot Chilli Peppers

sometimes I feel like my only friend
is the city I live in, the city of angels
lonely as I am, together we cry

Mas sem a parte da solidão e do chororô, porque não consigo me sentir sozinha aqui. Não que eu não aprecie a minha própria companhia, ou que a cidade seja realmente a minha única amiga. Mas eu tenho esse costume, nascido da introspecção, de forjar relações estreitas com lugares, e considero aqueles onde vivi (Rio, São Paulo, Jersey, Hannover, Londres) e alguns onde não vivi (ainda) como amigos. De verdade. Temos uma história juntos, temos fases ruins em que ficamos “de mal”, temos fases de extremo encantamento babão, amor, ódio e indiferença, reclamações e declarações. Como eu poderia vê-los apenas como coordenadas geográficas ou pontos num mapa, sendo que eles me deram algumas das minhas melhores experiências e abrigaram todas as minhas mais preciosas lembranças?

Sempre sorrio de leve e dou um “olá” mental para os meus parques, prédios, vistas, bairros, praças, praias, montanhas e monumentos favoritos. Depois de um tempo longe, voltar a esses lugares é como reencontrar um amigo; muitas vezes até mais intenso. A primeira manhã em que saí de casa depois de voltar para Londres ao fim de uma temporada especialmente calorenta e triste no Brasil: The Shins no mp3 player, botas pela primeira vez no ano e o conforto do frio, atenuado pelo casaco, que me envolveu e desejou boas vindas. Sério. Eu quase pude ouvir. Na impossibilidade de abraçar aquela manhã de janeiro eu abracei o meu casaco de brechó, percebendo nele o cheiro do meu perfume preferido. “I’m home”. E a manhã respondeu, “Yes, you are. Welcome.” Ou me sentar na mureta da Urca numa manhã de domingo, por exemplo, a aspereza do granito arranhando a pele como se fosse um carinho e o abraço do vento fresco que vem do oceano. Quase posso ouvir um “you’re back”, sussurado por entre um sorriso. E sorrindo, quase respondo, “yes, I am”.

E ao contrário de alguns amigos, os meus lugares sempre estarão aqui. Para voltar para mim e para que eu volte para eles.

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Fui então pra casa comer minhas porcarias com cerveja francesa barata que nem nome tem e ver filminhos com Respectivo até a hora de sair pra encerrar um ano que ficou devendo, mas que, no fim das contas, ainda manteve o crédito.

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