voltei à kensington, agora com 3g; da última vez a vodafone tinha falhado comigo. me apaixonei por uma menina japonesa na plataforma do metrô - pele de porcelana, cabelos negros longos e lisos, visual goth chic: saia longa, botas e jaqueta, tudo preto, tudo caro, tudo lindo.
a estação de metrô da high street também é linda. na rua, dois jovens distribuíam amostras de uma bebida nova e ganhei uma caixinha de café latte com água de coco. apenas 6.6g de carboidrato por 330ml.
encontrei por acaso um pequeno jardim no meio de um quadrilátero de casas terraced, pontilhado de cerejeiras e magnólias em flor - uma visão. achei graça quando fiz check in no 4square e algumas pessoas recomendavam o jardim afirmando que “era bom para fazer picnic ou jogging” - o que provavelmente era mentira ou ironia, uma vez que o jardim é privado e é preciso chave (privilégio dos moradores) para entrar.
segui andando e encontrei a igreja e fiz fotos do pequeno cemitério, o chão coberto de daffodils. sentei numa mureta para tomar café da manhã (queijo que trouxe de casa + a tal bebida que ganhei, relativamente bebível).
uma coisa engraçada é que vi umas poucas pessoas passando por mim, inclusive uma mulher com uma menininha, todos saindo de um portão do meu lado esquerdo; terminado o “recreio” tentei sair por ele também e me dei conta de que não era um portão e sim uma extensão da grade. não havia um lugar por onde aquelas pessoas poderiam ter entrado, e eu procurei. vamos lembrar que eu estava sentada num cemitério. creepy.
na verdade tive sorte de não conseguir sair por ali. dei a volta e já ia indo embora quando percebi uma entrada lateral, um túnel com teto ovalado. segui por ele e encontrei a fachada frontal da igreja. havia algumas pessoas dentro, uma senhora junto com um homem de meia idade, e outra mulher com uma menina - de uns 10 anos, mas vestida tradicionalmente de criança em cores clássicas, como os ricos costumam fazer. dois pequenos jardins onde pessoas comiam lanche, conversavam ou futucavam celulares. a senhora e o homem de meia idade e a menina pareciam me observar. anos de self conciousness me ensinaram a perceber olhares com o canto dos olhos. a menina olhou para a minha bota, eu pus os óculos e fui embora.
Esse lustre é e-nor-me.
entrei em algumas lojas da high street, inclusive uma pc world onde os vendedores me sorriam quando entrei e me tratavam por ma’am. peguei um ônibus para willesden onde fui apresentada a um autêntico cafezinho servido numa deli portuguesa. sentei numa mesa da calçada ao lado de dois hipsters gatos - que por acaso eram gaúchos. willesden é uma espécie de gueto brasileiro, i shouldn’t be surprised. kensal rise. ladbroke grove. notting hill. desci de propósito no lado errado de portobelo road para poder caminhar por ela até a estação. pessoas em bandos. algumas lojas fechando. portobello tem uma vibe diferente durante a semana, sem as hordas de turistas e as barracas vendendo lixo. choraminguei com a cara boa das pizzas na porta do arancina, encontrei um amigo e entramos para um café. pela janela do primeiro andar olhei as cabeças passando apressadas lá embaixo e uma melancolia com gosto de caafé expresso me pegou. roubei azeitonas da pizza alheia e me arrastei até o metrô, onde peguei meu evening standard do dia e um cara tentou me fazer entrar numa loja e comprar uma bolsa louis vuitton usada.
sebos de livros. ♥
foco is overrated. ♥
comprei três revistas new yorker numa charity shop, a mais velha de 1960 e a mais nova de 1976. 50 centavos cada uma, eles tinham uma caixa cheia, mais de 100. eu quis levar outras, mas o peso se tornaria insuportável para carregar - especialmente na sacola de supermercado com alças finas que me deram e cortaram meus dedos. a idéia era usar para fazer colagens, sempre é. mas eu tenho dezenas de revistas antigas (anuários fotográficos, catálogos, revistas semanais femininas, etc), todas compradas com o mesmo propósito e jamais cortadas porque tenho pena de destruir algo que resistiu intacto por tanto tempo e é mais velho que eu. uma espécie de reverência sem sentido porque afinal é só papel, de tiragem não-limitada. mas o que importa é o pedaço inadulterado de história nas minhas mãos. acabo tirando muitas xerox.
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