Me perguntaram se eu ia fazer uma “retrospectiva” da minha visita relâmpago ao Brasil e eu considerei a idéia por algum tempo - sem muito tesão por me lançar à tarefa de elaborar uma longa e tediosíssima lista de reclamações, decepções e irritações - até que me fizeram outra pergunta (“você acha que vai voltar?”) e então eu achei que devia escrever alguma coisa.
Eu costumava ir ao Brasil basicamente por causa dos meus lugares preferidos e das minhas lembranças deles. Parecia que eu só era eu mesma quando estava ali. Mas tem aquele ditado que fala que a gente nunca deve voltar aos lugares onde foi feliz, porque não somos mais aquela pessoa que viveu aqueles momentos e corremos o risco de ver a mágica acabar. Pode ser traumático. A idéia seria fazer novos momentos, em novos lugares, viver novas felicidades; mas um dos problemas que vêm com a idade é o cinismo. Era fácil ver graça nas coisas antes porque eu acreditava nelas. Hoje em dia é como se eu enxergasse a vida através de uma janela suja, depois de anos e anos de chuva + poeira embaçando a minha visão. Às vezes parece mais simples parar de forçar a vista na janela, abrir uma gaveta e pegar um álbum de fotos onde o passado foi arquivado em cores fidedignas e eu posso ver com clareza. Não que a vida esteja ruim; muito pelo contrário. As coisas não ficaram mais feias do lado de fora, eu é que perdi um pouco da capacidade de ver.
Só que ficar eternamente olhando pelo espelho retrovisor pode até ser gostoso e quentinho e reconfortante (a proverbial segurança do que é conhecido e que, por já ter sido vivido, não traz mais surpresas ruins) mas infelizmente não é muito saudável ou enriquecedor. Não quero ficar revivendo o passado com o mesmo entusiasmo de quem planeja uma viagem de férias. Não vou arrancar essas fotos do álbum, mas não quero mais que elas sejam o meu “padrão de qualidade” para fazer fotos novas. O que me faz feliz hoje não é necessariamente o que me fazia feliz ontem, e eu preciso aceitar isso. Nem vai doer, vai ser um peso deslizando dos ombros até espatifar no chão. Quem sabe então sobre tempo para limpar aquela janela.
Aí eu não sei mais porque volto para o Brasil. Para ver meus pais, claro, mas eles podem me visitar aqui e o fazem. E então fico sem resposta, porque lá as pessoas me decepcionam, porque a presença de algumas delas me faz positivamente mal, porque o lugar é inseguro, porque a TV aberta é ruim (e os livros são caros e as tarifas de celular são absurdas e a internet lenta), porque quase tudo está custando mais do que vale, porque muita gente que valia a pena já foi embora, porque eu nem me sinto mais tão em casa ali. A idéia original era ter ido no inverno (em 2014), mas foi melhor ter dado errado porque será época de Copa do Mundo e as passagens para o Brasil estarão escassas e caras.
Foi chato não ter tido tempo de ver pessoas queridas. Estou me desculpando com elas. Mas eu me sentiria meio mal indo saracotear pela cidade deixando meu pai deprimido em casa porque não podia sair, sem contar que eu precisava estar lá pra ajudar a minha mãe a cuidar dele. Mas enfim, os planos de visita foram realocados para o inverno de 2015, dependendo muito do que estiver acontecendo por aqui e do meu estado de espírito. Se eu sentir que não devo e nem quero estar lá, não estarei.
It’s a lovely day outside. :)
Eu costumava ir ao Brasil basicamente por causa dos meus lugares preferidos e das minhas lembranças deles. Parecia que eu só era eu mesma quando estava ali. Mas tem aquele ditado que fala que a gente nunca deve voltar aos lugares onde foi feliz, porque não somos mais aquela pessoa que viveu aqueles momentos e corremos o risco de ver a mágica acabar. Pode ser traumático. A idéia seria fazer novos momentos, em novos lugares, viver novas felicidades; mas um dos problemas que vêm com a idade é o cinismo. Era fácil ver graça nas coisas antes porque eu acreditava nelas. Hoje em dia é como se eu enxergasse a vida através de uma janela suja, depois de anos e anos de chuva + poeira embaçando a minha visão. Às vezes parece mais simples parar de forçar a vista na janela, abrir uma gaveta e pegar um álbum de fotos onde o passado foi arquivado em cores fidedignas e eu posso ver com clareza. Não que a vida esteja ruim; muito pelo contrário. As coisas não ficaram mais feias do lado de fora, eu é que perdi um pouco da capacidade de ver.
Só que ficar eternamente olhando pelo espelho retrovisor pode até ser gostoso e quentinho e reconfortante (a proverbial segurança do que é conhecido e que, por já ter sido vivido, não traz mais surpresas ruins) mas infelizmente não é muito saudável ou enriquecedor. Não quero ficar revivendo o passado com o mesmo entusiasmo de quem planeja uma viagem de férias. Não vou arrancar essas fotos do álbum, mas não quero mais que elas sejam o meu “padrão de qualidade” para fazer fotos novas. O que me faz feliz hoje não é necessariamente o que me fazia feliz ontem, e eu preciso aceitar isso. Nem vai doer, vai ser um peso deslizando dos ombros até espatifar no chão. Quem sabe então sobre tempo para limpar aquela janela.
Aí eu não sei mais porque volto para o Brasil. Para ver meus pais, claro, mas eles podem me visitar aqui e o fazem. E então fico sem resposta, porque lá as pessoas me decepcionam, porque a presença de algumas delas me faz positivamente mal, porque o lugar é inseguro, porque a TV aberta é ruim (e os livros são caros e as tarifas de celular são absurdas e a internet lenta), porque quase tudo está custando mais do que vale, porque muita gente que valia a pena já foi embora, porque eu nem me sinto mais tão em casa ali. A idéia original era ter ido no inverno (em 2014), mas foi melhor ter dado errado porque será época de Copa do Mundo e as passagens para o Brasil estarão escassas e caras.
Foi chato não ter tido tempo de ver pessoas queridas. Estou me desculpando com elas. Mas eu me sentiria meio mal indo saracotear pela cidade deixando meu pai deprimido em casa porque não podia sair, sem contar que eu precisava estar lá pra ajudar a minha mãe a cuidar dele. Mas enfim, os planos de visita foram realocados para o inverno de 2015, dependendo muito do que estiver acontecendo por aqui e do meu estado de espírito. Se eu sentir que não devo e nem quero estar lá, não estarei.
It’s a lovely day outside. :)
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