Wednesday, November 19, 2003

Rainy days and mondays.

Rainy days are the best.
Claro, nem tão belos quando se está a fim de voltar pra casa numa quarta feira calorenta, desaba aquele aguaceiro do cacete e você lá, sem guarda chuva, vestindo roupas pesadas que empapam e pesam mais quando molhadas.

Mas não foi o que aconteceu hoje. Podia ter sido, mas eu tive alguma sorte e quando a chuva desabou eu já estava dentro do ônibus; e antes que eu descesse ela serenou. Obrigada, chuva, por me proteger e por me deixar assistir de camarote (consegui voltar pra casa sentada, e na janela) o espetáculo do "céu noturno" às quatro e meia da tarde, das vitoriosas nuvens de chumbo se espalhando num céu que resistiu enquanto pôde, do estrondo encantador dos trovões se aproximando, e é claro, os raios. Eu amo relâmpagos. Só a palavra já é linda. E hoje à tarde eles caíram grossos e fartos, atraídos pelos pára-raios das margens da Av. Brasil, transformando o céu num enorme letreito de neon piscante. Lindo. Tem gente que bate palmas pra pôr-do-sol na praia. Eu queria aplaudir tempestades de pé.

E as pessoas correndo pra se proteger da chuva? Acho engraçado. Até porque elas estão sem sombrinha, mesmo. Comecei a ponderar o que se perde, enfim, chegando-se em casa ensopado. Água não mata. Por que temos tanto medo? O problema é que a necessidade de se fazer as coisas seguindo o padrão mata as vontades. E então a gente prefere não estragar o penteado ou não molhar a camisa nova do que se permitir sentir a carícia rude que os pingos duros de uma chuva forte fazem na pele. Saudade de um bom "rain shower" hoje, ao ver o povo buscando marquises enquanto um mendigo repousava sereno dentro de uma poça d´água. Só os mendigos são felizes. Eles mandaram as convenções sociais à merda e sentam-se à beira do caminho rindo da cara do sistema.

Quis muito me enfiar debaixo de um toró. Mas será que ainda consigo ligar o dane-se e não me preocupar com a roupa, com os livros dentro da bolsa, com o tênis que pode descolar a sola na água?

Tomara que sim.

Quando eu era criança, só tinha medo dos raios por causa daquelas crendices de tia que eu ouvia dos adultos - aquelas histórias horríveis de raios matando gente, o "não fale ao telefone enquanto estiver chovendo", "não fique perto de espelhos, nem debaixo de árvores", "não segure nada de metal". Um medinho gostoso, um micro risco calculado, que fazia o meu coração acelerar quando o céu se iluminava. Eu vou saber, depois do próximo banho de chuva, se eu finalmente virei adulta.

Tomara que não.

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