Friday, May 23, 2003

Just another day in Hell

Tá foda conseguir não virar lésbica. A qualidade do sexo forte (?) piora a olhos vistos.

Eu no ponto do ônibus depois de um dia PODRE no trabalho (depois falo sobre essa questiúncula). As costas desmoronando-se, as costelas entrando para dentro dos pulmões e eu quase vomito sangue por conta disso. Dói tanto que por duas vezes me agacho e fico lá, de cócoras, esperando que ou o ônibus passe AGORA ou que também AGORA um raio parta minha cabeça em dois hemisférios ocos. Porque nada além dessas duas coisas pode me aliviar o sofrimento.

O primeiro ônibus passa. O motorista from hell passa por mim, me olha na cara e segue adiante com a sucata voadora, sem parar. O segundo faz o mesmo, e depois de UMA HORA às margens da avenida Brasil, tendo dúzias de policiais armados de fuzis circulando à minha volta com a mesma tranquilidade dos vendedores de bala, um motorista finalmente me concede a graça. Eu já estava à beira das lágrimas.

Obviamente, depois de ter sido ignorada por dois carros, o terceiro, já bem mais tarde, passa lotado. Sento na escada mesmo; só que esse ônibus vai parar em VÁRIOS pontos até me despejar em casa. Ou seja, a porta se abrirá (e permanecerá aberta) em várias localidades às margens da Av. Brasil, onde homens subirão, olharão minha calcinha exposta e com algum azar me chamarão de “gostosa”.

Péra. Pára tudo. Eu não quero mais um ônibus. Nem quero ir pra casa. Eu quero aquele raio.

Foi exatamente o que aconteceu. Com um agravante: dois caras resolveram também ficar na escada, junto comigo. Os dois em pé, minha cara colada às suas bundas, o cheiro do suor curtido durante um dia inteiro de trabalho empesteando o pouco ar disponível naquele mini espaço, tornando-o praticamente irrespirável.

Para acabar de danar de vez, o mais feio deles ficava com os olhos esbugalhados metidos dentro da minha blusa. O ônibus rodopiou pela Brasil e eu maldisse mil vezes o fato de ter ido de saia bem naquele dia. Ficava espremendo as pernas na vã tentativa de ocultar meus fundilhos. Não adiantava: vendo ou não meus fundilhos, a homarada arreganhava dentes ao vislumbrar uma fêmea da espécie dando mole na escada do coletivo.

Homens hétero têm mais sorte. É possível para um camarada exigente ver mulheres aproveitáveis durante uma caminhada de 30 minutos. Uma mulher exigente pode caminhar por 30 dias e não encontrar um que consiga não lhe fazer querer se matar. O nível anda baixo.

Ainda tenho um pouco de sorte por ter achado um camarada que presta e cuja conversa não me dá vontade de socar a cabeça na parede. Sei lá se eu o amo, provavelmente não - mas querer “paixãozinha” também significaria que eu ando vendo novela demais, ou lendo muito os livros de Mme. Delly. Olho pro namorado de algumas amigas minhas e suspiro aliviada.

É, vai demorar um pouco até eu mudar de orientação sexual.
Lésbicas de plantão: chorai.

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