Saturday, June 13, 2015

Thank God it’s June 13

O tal do “Dia dos Namorados” nas redes sociais está quase sendo mais doloroso pra quem tem namorado do que pra quem não tem.

É tanto comentário amargo, tanta “piada” sem humor, tanta hashtag despeitada (cheias de misoginia, nível #NamoraMas já deu pra escola inteira” - argh), tanto “ODEIO ESSE DIA TERRÍVEL!!!” (consigo pensar em dias bem mais terríveis na história da humanidade e a sua vida certamente teve piores, mas deixa pra lá), tanto mimimi e tanta revolta que a pessoa se sente mal por estar num relacionamento. “Opa, a partir de hoje tô oficial com a Leidimira, galera; desculpas antecipadas por fazer vocês se sentirem vazios no próximo dia 12 de Junho ok bye”

Andaram compartilhando um meme do Sensacionalista “Facebook emite nota dizendo que hoje não é obrigatório postar foto com namorado(a)” e embora eu tenha achado graça e muita gente tenha dado share no espírito da zoeira, não vi ninguém reclamar do excesso de compartilhamento de “foto com a mãe” no segundo domingo de maio na mesmíssima rede social. Ontem eu postei no Twitter uma imagem de um Santo Antônio de cabeça pra baixo e fui chamada de opressora em anônimo no Ask. Oi? Tá BOUA, santa? Hoje é dia dos namorados, mas você não pode falar na internet sobre o(a) seu(sua) namorado(a) a fim de não oprimir os solteiros da timeline - ou seja, o dia é sobre ELES, e não vocês. Risos.

Sozinha ou não, eu nunca dei muita bola para o dia do amor romântico. Tanto é que tenho pouquíssimas lembranças de Valentines passados; e olha que sou boa em guardar memórias, desde que sejam relevantes. Sempre achei a data artificial, cafona, comercial e forçadora de barras. Aquele “dia designado” para se fazer de amante latino e presentear em data específica com objetos específicos. Não importa que eu esteja louca por um processador de alimentos; ganhar isso de presente no dia dos namorados “pega mal” e por isso toma aqui outro perfume que você só vai usar pra sair comigo (ou nem isso) porque não gostou do cheiro, flores que vão murchar, esse relógio caro que você vai anunciar no Mercado Livre assim que terminarmos, chocolates que vão passar semanas na sua cintura e esse bicho de pelúcia horroroso que só vai ocupar lugar no armário ou encher de poeira numa estante.

Eca. Dane-se o romantismo. Toma aqui o link do processador.

Sem contar que nada pode ser menos romântico do que estar num restaurante superlotado de casais, cercado daquela “decoração” de gosto duvidoso com corações de glitter e papel crepon dependurados, rosas semi-murchas de brinde para as moças, bebida quente porque a demanda da noite não permitiu tempo pra gelar direito, entreouvir a briga do casal da mesa ao lado porque esse não era o restaurante que ela queria, etc., todos ali cumprindo a mesma obrigação. Uma metade provavelmente querendo estar em casa assistindo seriado e a outra se perguntando se o lugar é “bom o bastante”, porque isso de certa forma valida os sentimentos da pessoa que vai pagar a conta. E a tal fila de carros na entrada do motel? Se isso não é motivo pra você perder totalmente o tesão (ou querer sair da casa dos seus pais o mais rápido possível e ter finalmente a sua casa cama própria) eu não sei o que é.

Nunca fui ao motel no dia 12 de junho. Não me lembro de ter ganho presentes nesse dia e nem de ter presenteado. Se rolou alguma coisa extra foi um evento tão bosta que nem ocupou espaço no hard drive mental.

Geralmente meus dias dos namorados passados envolviam atividades prosaicas, como comer pipoca na pracinha e beber cerveja de um real (saudades Polar gelada) no trêyler (sic) da Morena demolindo um podrão com ovo de codorna e batata palha, ou assistir filmes em casa de pijama e cobertor com um balde de pipoca no meio e uma garrafa de Pouilly-Fumé na mesinha de cabeceira pra beber no gargalo. Nada que fosse causar inveja em quem quer que fosse. Nada de que eu teria inveja. Nada que eu não pudesse fazer em qualquer outro dia, ou com amigos, ou mesmo sozinha.

Se é do relacionamento em si que as pessoas sentem falta, revelo que a única diferença entre uma grande amizade e um namoro/casamento é o sexo. Sexo que você a) pode encontrar em qualquer lugar e b) costuma diminuir com o tempo. Inclusive acho que grandes amizades são infinitamente superiores a 90% dos amorzinhos que a gente encontra por aí, onde quando acaba o tesão exclusivo (que costuma ter prazo de validade) acaba tudo. Seu amigo que está namorando hoje pode estar sozinho amanhã. Suas amizades ficam.

Eu sei que existe toda uma pressão da sociedade para agrupar pessoas em duplinhas heterossexuais (de preferência da mesma etnia) com diploma de curso superior, média de 2.4 filhos, carro utilitário esportivo na garagem e um Golden Retriever com pedigree para passear no fim de semana. Existe “pressão da sociedade” para uma cacetada de coisas para as quais a gente literalmente caga - eu, por exemplo, enquanto placidamente sentada no trono, gosto de pensar nos filhos que não tive e que por isso não vão bater na porta do meu banheiro pedindo coisas e interrompendo esse momento de calma reflexão. Priceless.

Sob o risco de soar escrota porque “afinal eu tenho marido”, eu acho que a gente deveria dar menos bola para as expectativas da sociedade e agradecer mais pelo que temos. Por exemplo, as pessoas que ontem estavam choramingando na internet são as mesmas que hoje, e amanhã, e semana que vem estarão postando altas fotos de balada URRÚ, GALERA, MELHORES AMIGOS, FAMÍLIA QUE EU ESCOLHI #BFF enquanto eu estarei no sofá, de meia suja e camisola manchada de comida, “atualizando” o instagram com uma foto de flor tirada 3 semanas atrás enquanto meu marido ronca sentado ao meu lado segurando um copo de vinho pela metade segundos antes de acordar quando ele cair no chão (o copo, não o marido… ou os dois, sei lá). Much exciting so romance many sexy wow

Em resumo: hoje já é dia 13. Vocês, que não têm namorado(a), já podem guardar o sarcasmo de volta na gaveta, já podem parar de fazer comentário passivo-agressivo na foto romantiquinha que os colegas postaram (sério, gente? que papelão, hein) e voltar a fazer as piadas de sempre com quem não tem amigos. Porque minha vida INTEIRA teve como trilha sonora comentários como “hahaha lolla não tem turminha, ela é feia/chata/boba/grossa, deve ter alguma coisa de errado com ela!” Agora imagina alguém fazendo essas mesmas suposições sobre quem não tem um amor. Que BAD VIBE não seria, hein. Porque somos todos futuros namorados perfeitos, só não temos um par porque “não aconteceu ainda a pessoa certa” - mas se não temos amigos então a culpa é 100% nossa: somos podres, asquerosos, detestáveis, esquisitos, a personificação de satanás.

Problemas com sensualizar e arrumar namorado? Nunca tive.
Problemas com socializar e fazer amigos? SEMPRE.

Essa sou eu e estou relativamente em paz com isso. A diferença é que não tenho um “dia anual específico” para ficar emburrada na internet, atirando farpas mergulhadas em curare e bile nos outros. Ok, tem o tal “dia do amigo”, mas a data é tão bunda que a maioria das pessoas nem fica sabendo e portanto não pode esfregar suas vidas sociais agitadas na cara dos Forever Alones. Já se tivesse o “DIA DA BALADA DE FINDE COM A TURMINHA DE VELHOS AMIGOS” seria diferente - so exciting! Inclusive voto pela implementação dessa data comemorativa, porque eu também quero o direito de problematizar na internet sobre as coisas que EU não tenho - inclusive sugerindo ao Facebook que fique fora do ar para que eu não veja vídeos de turma curtindo feriadão na praia e para que inventem um aplicativo que filtre snapchats de gente dançando cazamyga na buatchy com as mão pro alto segurando copos de tequila (evento para o qual não fui convidada, afinal eu tenho marido), enquanto tô cogitando se tem problema passar outro dia sem pentear o cabelo já que vou ficar em casa anyway. Risos.

Ema ema ema, cada qual com seus pobrema.

O tal dia 12 não tem que ser horrível porque é sobre eles - não sobre você.
Trust me, my friend, not everything in life is about you.

P.S.: Isso não é uma indireta específica para ninguém que fique triste no dia 12. Não tem como controlar como você se sente, mas tem como controlar seu output. Considere.
P.S.2.: Isso É uma direta específica para quem me chamou de opressora (risos II) e para quem agrediu os amigos na foto do casal no face. Tomem vergonha nessas caras.

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