Thursday, April 14, 2011

Quase lá.


A casinha de tijolos vermelhos nos fundos de um condomínio ao norte da cidade não foi amor à primeira vista. Eu fiz fotos de celular, usei meus passos para medir os cômodos, me certifiquei de que mais da metade dos nossos móveis jamais caberia ali e fui embora.

Não foi amor à segunda vista, tampouco. Passei semanas olhando as fotos e tentando me acostumar aos cômodos pequenos e escuros, ao carpete áspero, ao jardim mal cuidado. Tentando mobiliar mentalmente cada quarto com os poucos móveis que iríamos levar e falhando em conseguir um resultado agradável. Como consolo, a noção de que aquela era uma casa temporária e que não precisava ser perfeita. Como ele mesmo havia dito, "it's a place". Um lar é mais do que apenas um lugar, e o que tínhamos era apenas o lugar.

A rua é longa, arborizada e a casinha fica no final dela. Número 13, que eu não lembro mais se representa sorte ou azar.


Se essa casa fosse minha, eu trocaria todas as portas e janelas de madeira escura por outras branquinhas. Porque elas deixam o ambiente mais leve e alegre. Porque elas complementam melhor os tijolos vermelhos. Porque elas aumentam a sensação de espaço. Porque eu preferiria assim.


Nenhum dos móveis por enquanto é nosso. Exceto a roupa de cama florida, que veio da Ikea. Aos poucos vai-se deixando marcas pela casa e espaços se transformam, ganham identidade e alguma alma.


O jardim em formato de "L" que quase nunca vê a luz do sol deverá ganhar flores, mas não poderei plantar árvores. Tudo em nome da não-permanência. Plantas, somente as que couberem em vasos. Mas cor é necessária (essa cerca de madeira não parece extremamente triste sem ela?), então os meus gerânios de Jersey deverão cruzar o canal da Mancha. :)


No último dia em que passei na casa que vai abrigar o começo de mais uma grande mudança na minha vida, enchi a banheira. Abri a janela e fiquei lá dentro, a água quente como um abraço assegurando de que tudo ia ficar bem. Os pássaros cantavam sua melodia de boas vindas e os esquilos vinham espiar o banheiro através da janela aberta. Um deles ameaçou entrar, mas logo desistiu e correu para o topo da árvore onde morava. Para casa, que é para onde corremos quando buscamos segurança e onde podemos relaxar e guardar as máscaras no fundo de uma gaveta.

É apenas um lugar. Mas, pelo tempo que for necessário, preciso aprender a torná-lo meu.


Temos telefone, temos internet, temos endereço.
Northeast London, here we go. :)

p.s: foto do início do post: vista do Smithfield Market em Londres através da janela do Il Boteglio.

1 Comments:

  1. Amei um trecho desse post e postei no meu Tumblr. Obviamente, coloquei seus créditos, contendo seu nome com o link para essa página. Aliás, seu blog todo é lindo. Parabéns, Lolla!

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