Uma das coisas de que eu realmente sentiria falta se voltasse a morar no
 Brasil? As estações do ano. Em especial a primavera, que chega depois 
de meses de cinza, frio, chuva e, de uns tempos para cá, a novidade da 
neve. Há décadas não nevava em Londres ou Jersey como nos dois últimos 
invernos. Só que, para a maioria das pessoas, a novidade da neve se 
esgota rápido (EU ainda não atingi o nível de nonchalance
 necessário para esnobar essa maravilha metereológica e fazer cara feia 
para floquinhos únicos e simétricos caindo dos céus). E ao se esgotar, 
deixa para trás ruas cobertas de uma papa preta feia, escorregadia e 
incômoda; isso sem mencionar as interrupções nos 
transportes, já que isso aqui não é a Finlândia e falta o know-how para lidar com neve. 
Para muitos, quando o gelo finalmente derrete, é impossível esconder o 
alívio e a sensação de que o inverno já vai tarde.
Ingleses 
gostam do verão por vários motivos, mas nunca parecem estar realmente à 
vontade com temperaturas acima de 25 graus. Bônus é a possibilidade de 
se enfiar num vôo barato para o Algarve ou Ibiza vestindo bermuda cáqui,
 boné branco e crocs azul turquesa com meia bege. As adolescentes se 
jogam num kaftan estampado com todas as cores da paleta pantone e 
repleto de paetês, TODOS os colares, pulseiras e anéis da coleção atual 
da Accessorize (que, vale lembrar, aqui não é uma loja chique), 
chinelinho de palha decorado com pedrinhas azul turquesa (inevitável) e 
óculos de plástico em formato de coração. Ou seja, let's not even go 
there. O fato é que, depois de um ou dois fins de semana de insolação no
 mediterrâneo ou comendo bacon com cogumelos + chá em algum café 
litorâneo em Bognor Regis, as pessoas acham que já tiveram verão o 
suficiente e começam a sentir falta da praticidade dos seus velhos 
casacos de lã.
O outono é popular por conta da transformação 
fabulosa das árvores, todas aquelas cores psicodélicas num pé de 
carvalho ali pertinho de você. Mas quando a festa acaba, e as crianças 
(ok, alguns adultos também, eu inclusive) já se cansaram de pular em 
cima das montanhas de folhas pelas ruas, sobra toda aquela sujeira para 
limpar. E o legado da estação são árvores nuas, a natureza com cara de 
morta e enterrada, o vento frio que anuncia o inverno e aquela temporada
 onde as pessoas se despencam para lugares quentes feito aves de 
arribação, ou para lugares muito mais frios ainda, onde possam se 
encharcar de bebida longe de casa com a desculpa de ter um par de esquis
 debaixo do braço.
Mas não consigo encontrar pontos 
negativos na primavera. Talvez para os que tenham alergia a pólen, mas 
né, convenhamos. Trata-se de um renascimento anual, enchendo os campos 
(e até as cidades) de flores, cores, perfume e beleza indescritível. 
Depois de meses ressecando a pele no aquecimento central e dormindo de 
meias, a primavera é praticamente um apocalipse às avessas. E, quando 
ela termina, ainda temos o veranico pela frente e a temporada de 
churrascos de hambúrguer regados a Pimm's ou piqueniques bem servidos de
 sanduíches de pepino. Yay.
Depois de tudo isso me imagino 
voltando a viver num lugar onde as quatro estações atendem pelo nome de 
"quente", "quente pra cacete", "SOCORRO, estou derretendo!" e "chuva", e
 então sinto uma nostalgia precoce do que ainda não se foi.
Passa aí um sanduba de pepino e o filtro solar, dear.
Wednesday, May 19, 2010
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