Wednesday, August 13, 2008

food for thoughts

Comida de pobre é uma coisa. AMO a maioria.
Arroz com ovo. Farofa. Cachorro quente podrão de carrocinha na Baixada. Sacolé. Vitamina de abacate grossinha e doce. Feijão com farinha. Carne seca com abóbora. Churrasquinho de asa, devidamente assado na laje do "apartamento" recém erguido na favela, com forró ao fundo. Se tiver "pão de alho" assando junto, even better. Feijoada gordurenta. Pudim de leite. Caipirinha azeda, porque afinal limão é mais barato que cachaça. Contini (o primo pobre do Martini Bianco) servido com coca cola. Sorvete/sacolé fabricado em fundos de quintal e vendido em carrocinhas. Pipoca salgada com "sal marinho e pedaços de bacon". Pipoca do saquinho rosa choque. Imitação de chee-tos custando 30 centavos, vendido na tia da vendinha da esquina. Galetão de domingo. "Salada de legumes" (uma batata, uma cenoura, três quilos de maionese barata). Molho à campanha (?). Macarrão com salsicha.

Geralmente os pratos mais saborosos e característicos da culinária regional de vários países são, exatamente, "peasant food", a boa e velha "comida de peão". Tô em Paris e nem cogito a hipótese de entrar num bistrô, pedir um prato custando o dobro do salário que eu ganhava no Brasil, coberto de molho e que gastou um parágrafo inteiro do menu pra ser descrito, tipo "confit de black pudding com batatas rösti em camadas, sobre torre de queijo de cabra, nuvem de hortelã e horseradish sabayon, coberto com redução de vinagre balsâmico e rosemary jus". Tá - come você, mon amour. Sento-me amarradona num pé-sujo na Rue du Rivoli, peço uma tigela de cassoulet quentinho por seis euros, com direito a uma taça de vinho barato (e vinho é uma das poucas coisas boas em Paris que você conseguirá chamar de "barato").

Aliás, essa mania francesa de cobrir tudo com molho tem nada de chique. Vem dos tempos onde não havia refrigeração e molho não era charme, mas sim NECESSIDADE para encobrir o gosto ruim da carne passada (ou podre, mesmo).

Isso me lembra a história de uma pessoa a quem, durante um almoço de família no interior da França, foi servida uma fatia de queijo. Quando ela levantou o negócio do prato, percebeu uns pedacinhos caindo de volta. Under closer inspection, a ficha caiu: não eram pedaços de queijo - eram VERMES. Baby mosca, sabe? Então. Ela deixou o pedaço de que ijo cair no chão, horrorizada. Os vermezinhos saíram se arrastando para todos os lados e, enquanto ela cogitava se seria muito deseducado subir na cadeira e começar a gritar, o anfitrião deu a volta em torno da mesa, pegou o queijo, cheirou, examinou os vermes, raspou o restante dali com uma faca e pôs o queijo de volta no prato. "Pode comer, não está estragado... Os vermes vêm atraídos pelo cheiro, eles também sabem o que é bom". A mesa inteira caiu na risada enquanto a moça cogitava se seria muito deseducado enfiar a mão na cara do francês ou fazê-lo comer os vermes.

Já comida CAFONA é diferente. Tenho uma certa"vergonha alheia" culinária.
"Ponche", por exemplo. Um monte de frutas jogadas dentro de uma tigela de vinho vagabundo. Gelatina com creme de leite. "Ah, o creme de leite desce e fica tão bonito...". CAFONA. Arroz doce. Torta salgada (aquelas com sardinha e "petit pois" - o nome pretensioso que pessoas cafonas dão para ERVILHAS). Rabanada. Desculpe quem se amarra (British Boy incluso), mas eu acho cafona. Bacalhau com batata no natal - clichê. Batida com leite de coco, suco de maracujá ou groselha. Qualquer bebida que leve leite condensado (se tiver nomes bregas tipo "meia de seda" ou "pau nas coxas" - acredite, existe - acrescente 10 pontos na escala de cafonice). Leite condensado em si é uma comida cafona. Tomo uma lata inteira se bobear (acompanhada de uns cinco litros de água, para aliviar a barra do açúcar), mas cafona é.

Vinho nacional (ou seja, brasileiro). A maioria é doce demais, desde os que a gente compra em garrafão de cinco litros pra festa de natal na zona norte, até alguns que se dizem de boa qualidade. Certa vez que questionei a razão disso, uma pessoa ficou meio putinha e rosnou que "brasileiro não gosta de bebida ácida". OK - bebe guaraná então, pô. :)

Ok, isso me lembra outra história, dessa vez envolvendo meu finado sogro Fred, que era engenheiro eletrônico e trabalhava na BBC. O véio era famoso pela falta de tato e por não dar a mínima para o que os outros pensavam. Foi convidado para um jantar em casa de amigos na França, um casal que tinha vinhedos e orgulho do que produziam. Para o jantar, tiraram do fundo da adega um tinto vintage fabuloso. Fred dá o primeiro gole e a francesada na expectativa, esperando os elogios. Sogrão bota a taça na mesa, passa a mão no açucareiro e joga tipos uma PÁ de açúcar dentro do vinho, dá uma boa mexida e bebe. E diz "Agora sim". Segundo relatos, a cara de sogrinha só não foi parar na China porque havia o chão no meio do caminho. Mas que dava pra cortar com faca o silêncio sepulcral que se abateu sobre a sala.

Enfim - em tese, qualquer comida que não esteja nas minhas exceções (vide primeiro parágrafo) e que combine com "menu de churrasco de subúrbio", "sobremesa preparado por tias em almoço de família dominical", "comida trazida por adolescentes para festinha americana" e "natal na casa da tia Orminda", eu passo. Ok, na verdade eu até como. Mas, como boa hipócrita, morro negando.

Poréééém, provando mais uma vez que a gente pode tirar a pessoa do "subúrbo" mas não tira o "subúrbo" da pessoa... Essa que vos escreve vai passar férias no sul da Itália, senta num boteco e pede "arancini + peroni", o famoso equivalente siciliano da "coxinha + skol".

Arancini leva arroz no lugar da massa e recheio de tomates e queijo derretido (ou carne). Viciante. E o clima nesse dia estava tão Hell Djanero que tive direito a um casal de cariocas sentado na mesa ao lado. Obviamente falando quilos de bobagem em português, achando que ninguém iria entender. Não sei o que era pior: a falta de educação ao falar obscenidades e palavrões em voz alta ou se a ingenuidade ao ignorar a regra básica de que brasileiro é virtualmente onipresente. Discrição, meninos. Abaixem o volume, por favor.

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